Segundo o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, o seu governo pretende alargar o apoio a Moçambique para o campo humanitário, participando na criação de condições para o regresso seguro das populações às suas zonas de origem.
Os ataques armados no norte de Moçambique iniciaram em 2017 e já causaram mais de dois mil mortos e cerca de 800 mil deslocados, segundo as autoridades.
Discursando nas celebrações do Dia das Forças Armadas e Defesa de Moçambique, ontem (25 de Setembro), em Pemba, Kagame disse que o seu país continuará a ser um bom parceiro, um bom amigo para Moçambique, bem como vai continuar a trabalhar com outros parceiros, para transformar o continente africano para o melhor.
Contudo, Kagame disse que o exército do seu país não pode ficar para sempre na província de Cabo Delgado, onde atuam desde julho com as tropas moçambicanas. O Ruanda enviou em julho deste ano, mil militares e polícias com equipamento e armas para a província nortenha de Cabo Delgado.
No início de agosto, os resultados já eram visíveis com anúncios de reconquista de Mocímboa da Praia, vila portuária há um ano tomada por rebeldes. outras zonas foram sendo progressivamente libertadas, bases de insurgentes desmanteladas e civis resgatados das matas.
“Por muito que não possamos estar aqui para sempre, penso que o problema com que estamos a lidar, com os nossos amigos em Moçambique, também não pode continuar por mais tempo“, disse Kagame na conferência de imprensa conjunta com o Presidente Filipe Nyusi.
“A cada passo, estamos a avaliar o que precisa de ser feito. A necessidade de ficar e por quanto tempo, isso surge naturalmente à medida que se faz progresso”, acrescentou o chefe de Estado ruandês.
A missão do Ruanda tinha inicialmente a duração de três meses, mas na sexta-feira (24 de Setembro), Kagame disse que caberia a Moçambique determinar quanto tempo deveriam ficar.
Em relação aos questionamentos levantados por alguns analistas, sobre o que é que Ruanda vai cobrar com estes apoios, Paul Kagame, esclareceu que todos os custos da permanência das suas tropas em Cabo Delgado estão a cargo do seu governo e Kigale não faz isso por troca de favores, mas sim, está a ajudar um país irmão.
Na mesma conferência de imprensa conjunta, o Presidente de Moçambique afirmou que, enquanto prossegue a consolidação da segurança nas zonas antes alvos de incursões de terroristas, Moçambique empenha-se também em vetores como a assistência humanitária e a promoção do desenvolvimento.
Filipe Nyusi garantiu que “muitos deslocados que vivem em sítios onde não estão em condições, (…) um dia vão voltar”.
“Temos tido uma abordagem humanitária internacional. Este vetor é ao mesmo tempo adicionado ao terceiro que é do desenvolvimento: nós temos que promover o desenvolvimento real, com transparência, com equidade, onde há igualdade social nos direitos, onde as pessoas sentem-se donas dos projetos. Por isso mesmo que, falamos do conteúdo local, mas também falamos não marginalizar as comunidades locais. Isso não só aqui na província de Cabo Delgado tem que ocorrer em todo o país”.