Para além de vincar a posição dos blocos regiões com os quais partilha ideias, com destaque para a SADC e a União Africana, Moçambique vai usar a conferência para falar sobre os desafios que enfrenta e explicar como tem conseguido superar as dificuldades impostas pelas calamidades naturais.
A delegação moçambicana que já se encontra em Glasgow, na Escócia, para participar na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, vai defender hoje uma transição energética gradual para evitar um colapso das economias de países emergentes, com efeitos no tecido social, caso até 2050 veja-se na contingência de parar a exploração de recursos naturais, como carvão e gás.
Chefia a delegação o Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, que fará o seu discurso na sessão plenária, em representação do Chefe do Estado, Filipe Nyusi.
O facto de o país ser afectado ciclicamente pelas alterações climáticas, com destaque para cheias, secas e ciclones tropicais impõe também uma contínua mobilização de recursos financeiros que possam ajudar o país a enfrentar esses fenómenos.
Por isso, para além de vincar a posição dos blocos regionais com os quais partilha ideias, com destaque para a SADC e a União Africana, Moçambique vai usar a conferência para falar sobre os desafios que enfrenta e explicar como tem conseguido superar as dificuldades impostas pelas calamidades naturais.
Neste contexto, e em face da vulnerabilidade nacional, Manuel Gonçalves, Vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, que falava à jornalistas anotou que o país olha para o encontro como uma plataforma ideal para reiterar a solicitação de recursos financeiros novos ou adicionais que garantam a continuidade da sua agenda de combate às alterações climáticas, com atenção para a componente de resiliência. “Vimos também a esta cimeira para transmitir a nossa experiência de mitigação das mudanças climáticas”, disse.
Manuel Gonçalves disse que o Governo de Moçambique está convicto no sucesso do evento, não obstante a ausência de líderes como Xi Ji Ping, da China; ou Vladimir Putin, da Rússia, e Joe Biden, dos Estados Unidos, cujos países são os maiores poluidores da atmosfera.
Entretanto, a COP-26, que marca, dentre outros aspectos, o regresso dos Estados Unidos da América à mesa das negociações, embora não sejam signatários do Protocolo de Quioto, vai discutir os próximos passos para a completa implementação do Acordo de Paris, o mais importante compromisso multilateral para o clima rubricado em 2015, na França.
O que se espera da conferência
As grandes expectativas em torno das discussões que envolverão lideres de 200 países, cinco fatores deverão concentrar a maior parte da atenção que são:
1 – As metas de cada governo
A COP26 é a data limite para os países signatários do Acordo de Paris submeterem propostas atualizadas para a contribuições determinadas nacionalmente (NDC, na sigla em inglês). Essas propostas expõem as iniciativas que os países planeam adotar para reduzir suas emissões de carbono e demais gases que provocam o efeito estufa.
As NDC permitem aos países estabelecer suas próprias estratégias de ação e foram determinantes para o sucesso do Acordo de Paris, assinado em 2009. No entanto, até agora, as propostas apresentadas ainda são insuficientes para manter o limite estabelecido de manter o avanço da temperatura global em menos de 2oC, entre o início da era industrial até hoje.
O Acordo de Paris prevê que a cada cinco anos os países revisem suas NDC e as levem a patamares mais ambiciosos. Até duas semanas atrás, 107 países e a União Europeia haviam revisado suas contribuições. Os que não fizeram, têm até o inicio da conferencia para fazê-lo. Isso significa que muito do tempo dedicado às discussões girará em torno dessas metas.
2 – O tamanho da conta
Outro grande debate é sobre quem pagará a conta para que os países em desenvolvimento consigam fazer parte do processo de combate ao aquecimento global. Desde 2009, os países ricos vinham prometendo que fariam contribuições que aumentariam progressivamente e chegariam a 100 bilhões de dólares por ano em 2020. Até hoje esse valor não foi alcançado. E muito países colocaram tal apoio como condição para suas NDCs.
3 – Os países pobres
Os países pobres, principalmente os mais vulneráveis às mudanças climáticas, como os da África e de pequenas nações insulares também reivindicarão por reparações por perdas e danos a partir dos problemas que já estão sofrendo com o aquecimento global. Apesar de ter encontrado um apoio superficial tal princípio enfrenta uma velada resistência dos países ricos.
4 – Metano, carvão e mercado de créditos de carbono
Entre outros debates a serem discutidos estão a política global do metano a ser encabeçado pelos Estados Unidos e União o Europeia. A proposta é que a emissão desse gás seja reduzida em 30% até 2030, a partir dos níveis de 2002. O gás é muito mais poluente mas dura menos que o dióxido de carbono. Com isso se obteria significativos progressos para se alcançar a meta de controle da temperatura do do planeta. O Reino Unido também pressiona para que os países abandonem o uso de carvão como fonte de energia. Outras discussões deverão envolver as regras para se estabelecer um mercado global de créditos de carbono.
5 – O mundo dos negócios e o meio ambiente
A COP26 assim como aconteceu nas versões anteriores, será uma oportunidade para empresas e investidores demonstrarem seus compromissos e políticas com relação às questões ambientais e climáticas. Isso será importante para gerar pressão no mundo empresarial como um todo pela redução dos impactos ambientais das atividades industriais e económicas. É justamente essa convergência de interesses entre entre as propostas dos líderes globais e dos empresariais e financeiros que torna a cúpula tão relevante.