O sistema de governação de muitos países africanos é ainda caracterizado por um total desrespeito pelos direitos humanos e pela marginalização da grande maioria dos seus povos. Estudiosos africanos defendem uma transformação estrutural e sistémica do continente, o que passa pela construção de sociedades mais abertas, mais democráticas, mais transparentes, mais participativas e mais justas.
José Castiano, filósofo moçambicano e vice-reitor da Universidade Pedagógica, delegação de Maputo (UP-Maputo), defende que a corrupção é um cancro que atormenta quase todos os países africanos, cujos governos são directamente partidários e aproveitam-se do facto de estarem no poder para acumularem as riquezas e servindo-se do país para os seus interesses pessoais.
Falando em entrevista ao canal televiso da STV, por ocasião do dia da África, que hoje se assinala, o filósofo entende que as elites africanas são clientelistas, o que significa que por um lado vivem na base de relações sejam familiares, sejam étnicos ou de amizades em que a partir dai formam os seus governos.
“Por outro lado, as nossas elites são clientelistas porque vê um território nacional como uma fonte para poderem fazer negócios ilícitos e, enquanto esta situação continuar não será possível eliminarmos a corrupção no continente”, disse, José Castianoo.
O filósofo aponta a falta de distinção entre o espaço público e o espaço privado, como outro factor que mina o desenvolvimento do continente mãe. “Por exemplo, os partidos políticos pertencem ao espaço privado, mas o facto de concorrerem para as eleições, não quer dizer que o espaço público deve ser todo ligado a formação política que vencer”, disse, para depois explicar que isso, em filosofia chama-se cancelamento de cultura de outro, em que quem ganha as eleições ocupa tudo, inclusive o espaço público e o estado.
Para José Castiano, este é um dos principais cancros em quase todo o continente africano, onde os governos que são directamente partidários acumulam as riquezas, servindo-se dos recursos dos seus países para si próprios.
Segundo o filósofo, a fome que afecta quase todos os países africanos é resultado da falta de implementação de uma política económica de desenvolvimento séria, unida a falta de justiça social.
Em relação a justiça social, Castiano explica que África é o continente que tem os recursos distribuídos de forma desigual. “Você tem uma pessoa que tem cinco casas, mas, ao mesmo tempo tem outra que vive numa palhota coberta de capim. Só esta imagem mostra uma injustiça, mas também mostra que nós cidadãos não conseguimos dizer que isso não pode ser assim”, disse.
Outros estudiosos africanos, como Fátima Roque (2005, 2012), sustenta que o sucesso da transformação de África depende da superação dos obstáculos de pobreza extrema, exclusão social e analfabetismo; frágil harmonia social, política e militar; corrupção, abuso de poder e clientelismo.
Sustenta ainda que contribui para o fracasso de África, as fracas estruturas políticas e sociedades civis pouco desenvolvidas; discriminação de género, de classes e entre a cidade e meio rural; infraestruturas debilitadas; falta de quadros, especializações e motivações; desemprego estrutural e demasiada dependência do sector público; dívidas externas insustentáveis e problemas nas contas de capital.
O Dia de África é comemorado anualmente a 25 de Maio. Neste dia, celebra-se a fundação da Organização de Unidade Africana (OUA), que hoje é conhecida como União Africana (UA). Criada em 1963, a OUA foi a primeira instituição continental pós-independência de diversos países africanos. Ela representa a busca de vários povos do continente por união desenvolvimento, democracia e liberdade, contra a colonização europeia.
Na data, 32 chefes de estados africanos se reuniram com líderes de movimento de libertação do continente em Adis Abeda, na Etiópia. O objetivo era incentivar a descolonização e Angola, Moçambique, África do Sul e Rodésia do Sul. Em 26 de maio, os participantes assinaram uma carta de princípios para melhorar os padrões de vida nos estados-membros.
Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu que 25 de maio seria o dia da África ou o dia da Libertação da África, mesma data da criação da Organização da Unidade Africana. A África tem 54 países e uma extensão territorial de 30.230.000 km². O continente é o segundo mais populoso do mundo.
dia 25 de Maio é considerado o Dia de África porque foi neste dia, em 1963, que se criou a Organização de Unidade Africana (OUA).