Alcançar a chamada melhor idade; é para muitos um desafio. Com o passar dos anos, a saudade de amigos e de parentes que já se foram, da profissão exercida na juventude ou mesmo da aparência e da saúde de outrora pesam sobre os ombros de idosos que, aos poucos, perdem a vontade de se socializar.
À noite tem sido o pior momento para a avó Elsa, uma mulher de 67 anos, residente num dos bairros da cidade de Maputo. Durante o dia, Elsa vagueia pelas ruas da grande cidade de Maputo a procura de algo para a sua sobrevivência, por isso, a solidão não lhe pesa muito. Mas de noite, a situação se complica, pois, está tudo apagado.
Viúva há mais de 10 anos, Elsa mora com um sobrinho, mas infelizmente não se entendem. “Ele me discrimina porque para alem do peso da idade sou seropositiva. Não me dirige a palavra e muito menos me serve a sua refeição”, explica a idosa, lamentando a situação da discriminação que se estende-se aos seus três irmãos, que também olham para ela com desprezo.
Mas a solidão da Elsa é uma situação que se repete em muitos lares moçambicanos e não só. Para justificar a ausência dos filhos e buscar uma sensação de conforto, esses idosos dizem repetidas vezes que os filhos não lhes visitam porque são muito ocupados; trabalham muito; ou que é papel do pai cuidar dos filhos e não o contrário. “São algumas frases comuns ditas por muitos idosos solitários em uma tentativa de amenizar a dor da solidão.
Em abrigos, casas de acolhimento, morando sozinhos ou até mesmo acompanhados, o abandono de idosos, além de ser crime, pode acarretar em uma série de doenças psicológicas e físicas.
Elsa teve um filho, mas morreu na infância. “Dois anos depois de perder o meu marido tive outra dor profunda, que foi a morte do meu filho. Porque vivia com os meus sogros, estes,mandaram-me embora e voltei para a casa dos meus pais”, explica a idosa.
Segundo ela, enquanto vivos os seus pais estava tudo bem, tendo a sua situação se complicado depois da morte destes. “Comecei a adoecer e depois de vários tratamentos descobri que era seropositiva”, explica, revelando que foi nessa altura que piorou o seu sofrimento.
Quando amanhece, Elsa dedica-se a recolha de garrafasusadas e deitadas nos contentores de lixo. Para o efeito, percorre longas distâncias. “Levanto-me as cinco de madrugada porque somos muitos que sobrevivemos graças a este negócio”, disse, para depois explicar que do bairro doZimpeto onde morra para a cidade de Maputo, gasta por dia 24 meticais por transporte.
Depois de recolher as garrafas, Elsa procura um espaço para lava-las “depois inicio o processo de venda, que não é fácil, porque as minhas principais clientes são as senhoras vendedoras de bebidas tradicionais”, explicou.
Avó Elsa, explicou que graças a este negócio consegue arrecadar por dia 80 a 100 meticais, valor que aplica na compra de alimentos, (basicamente farinha, açúcar e pão, as vezes um pouco de óleo,
A uma pergunta sobre como é que adquire o caril, uma vez que o dinheiro é pouco, Elsa respondeu que o seu carril baseia-se em restos de folhas que apanha no mercado de Xipamanine ou Malanga. “As vezes apanho restos de folhas de couve, ou de alface”, disse.