“Senti-me chocada ao ver morto o homem com quem tenho 13 filhos. Andava com ele de um lado para outro, porque a nossa casa em Chirassicua, Nhamatanda, foi incendiada pelas FDS em 2019, quando raptaram os nossos cinco filhos”, revela a viúva de Mariano Nhogo, Amélia Marcelino .
A viúva de Mariano Nhongo, Amélia Marcelino, líder da “Junta Militar”, morto esta semana nas matas de Nhamatanda, revela que o finado andava desesperado nas matas, “sem sítio para dormir, comer” ou “tomar banho”.
Estas revelações foram feitas durante a cerimónia fúnebre de Mariano Nhongo, realizado na tarde desta sexta-feira (15 de Outubro), na Província de Sofala, centro do país.
Segundo a esposa do então líder da autoproclamada “Junta Militar” da RENAMO, morto em combate pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique disse que ultimamente, Mariano Nhongo andava desesperado nas matas.
“Eu não tinha para onde ir, tinha de andar com ele, porque não podíamos ficar em casa. Estávamos a ser perseguidos, até que na segunda-feira (11.10) saí a correr para Dondo quando ouvi tiros. Vim para a casa da minha irmã e não sabia de nada que aconteceu lá nas matas”, disse, Amélia Marcelino à DW África e citado pelo jornal O País.
Mariano Nhongo foi morto a 11 de outubro pelas forças governamentais moçambicanas numa mata do distrito de Cheringoma, província de Sofala, centro do país, durante uma troca de tiros com uma patrulha da polícia moçambicana.
“Ligaram-me para dizer ‘vem ver o seu marido morto”. Senti-me chocada ao ver morto o homem com quem tenho 13 filhos. Eu estava a andar com ele, porque não tinha casa durante dois anos”, relata Amélia Marcelino, aludindo ao facto de que a família ficou sem casa desde que as FDS incendiaram a casa de Nhongo, em Chirassicua, e raptaram os seus cinco filhos, em 2019.
O funeral foi realizado esta sexta-feira (15.10) e os seus restos mortais foram enterrados em Chirassicua, distrito de Nhamatanda, centro do país.
Família pede protecção
Carlitos Mariano, um dos filhos que regressou à Moçambique para assistir ao funeral, pede a proteção a toda a família de Mariano Nhongo. Mariano estava exiliado na África do Sul.
“Não temos casa, não temos comida e não temos sítio para viver e agora não temos família, porque todos se esconderam. Tinha o desejo de ver a minha família hoje no funeral, mas não vejo a cara de ninguém”, disse o filho do malogrado.
No dia em que foi anunciada a morte de Nhongo, o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique, Bernardino Rafael, disse que o corpo do guerrilheiro seria entregue à sua família.
Mariano Nhongo dirigia a autoproclamada “Junta Militar” da RENAMO, dissidência do partido, responsável por ataques armados no centro de Moçambique desde agosto de 2019. O grupo de antigos guerrilheiros que era liderado por Nhongo tem contestado a liderança da RENAMO e os termos do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), decorrentes do acordo de paz de agosto de 2019.
A autoproclamada “Junta Militar” tem protagonizado desde então ataques armados no centro de Moçambique, que já provocaram a morte de 30 pessoas.
Durante as celebrações do Dia da Paz em Moçambique, há uma semana, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, prometeu-lhe a integração no processo de DDR, numa altura em que as forças governamentais reforçavam as suas operações no centro de Moçambique, mas não houve resposta.
No âmbito do DDR, um total de 2.307 ex-combatentes da RENAMO já regressaram à casa, de uma meta de cerca de cinco mil antigos guerrilheiros.