O seu romance Niketche: Uma História de Poligamia ganhou o Prémio José Craveirinha em 2003. Em 2016, Paulina anunciou que decidiu abandonar a escrita porque estava cansada das lutas travadas ao longo da sua carreira.
O Presidente da República, Filipe Nyusi felicitou ontem a escritora moçambicana Paulina Chiziane, que venceu o prestigiado Prémio Camões 2021.
O Chefe do Estado endereçou as felicitações através da sua conta do facebook. “Hoje é dia de festa para a Literatura Moçambicana. A nossa companheira Paulina Chiziane venceu o prestigiado Prémio Camões 2021. É um merecido reconhecimento à obra desta escritora que com grande mestria tem sabido retratar o país”, escreve Filipe Nyusi, que acrescenta que este prémio, atribuído por unanimidade pelo júri inspire a toda sociedade moçambicana em tudo o que faz, sobretudo às novas gerações de autores.
Biografia
Paulina Chiziane cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo, anteriormente chamada Lourenço Marques. Nasceu numa família protestante onde se falavam as línguas Chope e Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola de uma missão católica. Começou os estudos de Linguística na Universidade Eduardo Mondlane sem ter concluído o curso.
Participou ativamente na actividade política de Moçambique como membro do partido Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), na qual militou durante a juventude. A escritora declarou, numa entrevista, ter apreendido a arte da militância na Frelimo.
Deixou, todavia, de se envolver na política para se dedicar à escrita e publicação das suas obras. Entre as razões da sua escolha estava a desilusão com as directivas políticas do partido Frelimo pós-independência, sobretudo em termos de políticas filo-ocidentais e ambivalências ideológicas internas do partido, quer pelo que diz respeito às políticas de mono e poligamia, quer pelas posições de economia política marxista–leninista, ou ainda pelo que via como suas hipocrisias em relação à liberdade económica da mulher.
É a primeira mulher que publicou um romance em Moçambique. Iniciou a sua atividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana. As suas escritas vem gerando discussões polémicas sobre assuntos sociais, tal como a prática de poligamia no país. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento (1990), a autora discute a poligamia no sul de Moçambique durante o período colonial.
O seu romance Niketche: Uma História de Poligamia ganhou o Prémio José Craveirinha em 2003. Em 2016, anunciou que decidiu abandonar a escrita porque está cansada das lutas travadas ao longo da sua carreira.
Em 2021, tornou-se a primeira mulher africana a ser distinguida com o Prémio Camões, a mais prestigiosa honraria conferida a escritores lusófonos, patrocinada pelos governos de Brasil e Portugal.
Sobre o inédito reconhecimento, declarou Paulina: “Não contava com isso. Recebi a notícia e disse: ‘Meu Deus! Eu já não contava com essas coisas bonitas!’ É muito bom. Esse prêmio é resultado de muita luta. Não foi fácil começar a publicar sendo mulher e negra. Depois de tantas lutas, quando achei que já estava tudo acabado, vem esse prêmio. O que eu posso dizer? É uma grande alegria.”
Obras:
Balada de Amor ao Vento: 1.ª edição, 1990.
Ventos do Apocalipse: 2a edição, 1993.
O Sétimo Juramento. Lisboa: Caminho, 2000.
Niketche: Uma História de Poligamia, publicado em 2002
As Andorinhas, 2009
O Alegre Canto da Perdiz, 2008.
Na mão de Deus, 2013
Por Quem Vibram os Tambores do Além, 2013, com Rasta Pita
Ngoma Yethu: O curandeiro e o Novo Testamento, 2015.
O Canto dos Escravizados, 2017.
Outras obras:
Eu, mulher… por uma nova visão do mundo (Testemunho, em 1992 e publicado em 1994)