Elísio Macamo, professor catedrático de Sociologia e estudos africanos na Universidade de Basileia, na Suíça, defende a criação de mais espaços, através dos quais várias vozes, diversas sensibilidades, distintas abordagens e ricas experiências possam juntar-se e dar realidade á ideia de Moçambique como um projeto sempre inacabado.
O sociólogo que falava através de vídeo conferência, no lançamento da Revista ÁGORA, na última sexta-feira, disse que Moçambique é um projeto sempre inacabado, mas, pelo qual “todos nós trabalhamos, dentro das nossas capacidades e sempre motivados pela relação que temos com o bem-estar de todos”.
Em relação a ÁGORA, Macamo explicou que todas as comunidades, sejam africanas, asiáticas, europeias ou americanas têm um lugar onde se encontram para discutir assuntos de interesse comum, “no sul de Moçambique por exemplo, esse lugar tem o nome de bandlha, na África ocidental, os franceses deram o nome de palavra”.
Segundo o Professor, estes são lugares onde a comunidade se constitui através de debate de ideias, o lugar onde se celebra a diversidade da palavra com vigor, da bandeira do respeito pelo outro.
Disse que os gregos chamaram esse lugar de Ágora que significa juntar-se e, era lá onde se fazia o que era feito na nossa bandlha. “Como nós os africanos demoramos na invenção da escrita, os gregos reclamaram os direitos de autor sobre um fenómeno universal, e gerações de europeus meteram nas nossas cabeças que a democracia tinha a sua origem na civilização Grega e, particularmente nesse momento de Ágora”.
Segundo Elísio Macamo, muitas vezes resistimos a coisas que fazem parte da nossa cultura e da nossa tradição, simplesmente porque “desconhecemos a nossa cultura e a nossa tradição ou então, essas coisas chegam a nós com outros nomes”, acrescentou, salientando que o que o Professor e antigo deputado Rui Conzane e a sua equipa propõe não é mais nem menos do que a recuperação da nossa cultura.
Para Elísio Macamo, o lançamento da ÁGORA é uma alegria porque é mais um espaço onde “podemos nos juntar para continuarmos a conversar sobre quem nós somos, o que nós queremos, como vamos alcançar o que queremos e sobretudo, para aprendermos a apreciar que a diferença de opinião não deve em nenhuma circunstância significar menos compromisso com Moçambique”.
“Dizem que na ÁGORA Grega podia-se sentir o cheiro de especiarias e produtos frescos e o cheiro limpo de sistemas sanitários muito bem cuidados”, disse o professor catedrático, fazendo votos para que realmente esta revista traga essa frescura para esse espaço cívico.
No final da sua intervenção, Elísio Macamo falou do projeto da independência de Moçambique, que segundo ele, parece desafiadora olhando para a situação vivida na província de Cabo Delgado, sobretudo pelo silêncio dos bons perante a perversão das instituições e do poder, mas acima de tudo pela forma como o país tem estado a regredir no que diz respeito a ampliação do espaço do exercício de cidadania.