RUANDA: País de colinas verdejantes cresce a um ritmo imparável

RUANDA, o país de colinas verdejantes, está a crescer a um ritmo imparável e invejável, como um dos territórios africanos mais cotados da actualidade e do futuro, transcorridos 26 anos do genocídio descrito como um dos mais hediondos do continente africano, envolvendo duas etnias, designadamente tutsis e hutus.

O genocídio do Ruanda, que ocorreu entre os meses de Abril e Junho de 1994, causou a morte de mais de 800 mil pessoas. Desde então, o povo ruandês tem se empenhado na reconstrução de um país onde o ódio e a intolerância étnica foram erro do passado, porém nunca a esquecer.

Devido ao triste e enfadonho acontecimento, um número significativo de responsáveis pelo genocídio deixou o Ruanda, procurando refúgio nos diferentes países africanos.

 

Hoje, o Ruanda é tido como um pequeno país africano de respeito e reconhecido internacionalmente pelos consideráveis avanços que regista, sobretudo no domínio tecnológico, mercê duma gestão que tem como foco o interesse nacional e que incute no cidadão o espírito de disciplina e entrega ao trabalho.

Estive na terra das colinas verdejantes de 22 a 28 de Novembro último, integrada numa missão parlamentar que participou na 17.ª Conferência dos presidentes dos Parlamentos e Titulares de Cargos da Commonwealth (CSPOC), região de África.

Durante seis dias, pude testemunhar os avanços significativos que o país está a registar.

O Hotel des Mille Collines, antigo hotel Ruanda, em Kigali, que se tornou famoso depois que 1268 pessoas se refugiaram ali durante o genocídio, foi o local onde estive hospedada. A história deste hotel e seu gerente na época, Paul Rusesabagina, foi mais tarde usada como base para o filme ”Hotel Ruanda”, de Terry George, em 2004.

Na capital, Kigali, vi disciplina, no que se refere ao comportamento do cidadão perante o bem-comum, estradas impecáveis, mercê a limpeza diária rigorosa, jardins coloridos e paisagens montanhosas fantásticas, naquilo que são atractivos que corporizam o seu cartão de visitas.

Antes de visitar o país de Paul Kagame, já tinha conhecimento dos elogios que eram tecidos sobre a beleza do país e sobretudo a disciplina do seu povo. Confesso que o que vi ultrapassou de longe as minhas expectativas. Ruanda está a ser reconstruido rapidamente, e todos os projectos seguem, rigorosamente, uma série de planos ambientais e critérios urbanísticos que procuram definir as bases para um desenvolvimento equilibrado, da capital, Kigali, ao interior do país.

Testemunhei este facto quando, no dia 27 de Novembro, viajei numa excursão organizada pelo Parlamento ruandês ao distrito de Musanze, província de Ruhengeri, no norte do país. Musanze, a quarta maior cidade de Ruanda, dista três horas de Kigal. Em termos de condições de estrada, não vi nenhum buraco durante o trajecto

Em conversa com um jovem taxista que me levou com alguns colegas de viagem, ao centro da cidade, fiquei a saber que a unidade e disciplina são as armadas fundamentais para o sucesso do Ruanda.

O jovem explicou que, uma vez por mês, os ruandeses saem às ruas para prestar serviços comunitários, aquilo que por cá era chamado trabalho voluntário. Todos, incluindo idosos até 65 anos, participam na limpeza da cidade. O Presidente Paul Kagame e família também participam nas jornadas de limpeza, na capital do país.

Não vi, em Kigali, papel no chão, garrafa partida, buracos nas estradas, sistema de esgoto inoperacional, gente a urinar nas árvores ou a circular depois das 22.00 horas. A velocidade máxima das viaturas no centro da cidade é de 60 Km/hora.

“Antes da Covid-19, já tínhamos essa disciplina. Às 22.00 horas, a cidade está deserta. Dificilmente encontra alguém na rua à essa hora”, realçou o jovem, acrescentando que para os indisciplinados, há medidas exemplares.

O plástico não circula naquele país, havendo um controlo rigoroso a partir do aeroporto e das fronteiras terrestres.

Outro dado interessante é que os ruandeses estão muito bem informados sobre a presença da sua força militar em Moçambique. Em todo o canto, a partir do aeroporto, no hotel e nas lojas, bastava identificarmo-nos como moçambicanos e a pergunta era: de Cabo Delgado? Lá onde estão os terroristas?

A maior parte das pessoas com quem travei conversa, jovens e adultos, mostrava-se orgulhosa pelo apoio a Moçambique, na luta contra o terrorismo.

Vilas para os mais pobres

O GOVERNO ruandês está a construir vilas para albergar famílias mais desfavorecidas. No distrito de Musanze, visitámos uma delas que, para além de residências, contempla creche, escola primária, ensino médio e técnico-profissional, com salas de aula bem apetrechadas, centro médico, espaço de lazer para adultos e crianças e campos desportivos.

As casas são modernas e são dotadas de necessidades básicas, como água e energia. Todas as escolas destas vilas são modelos e completamente apetrechadas com laboratórios e computadores para cada aluno, a partir do ensino primário.

Por todos estes feitos, Paul Kagame é tido como exemplo de um estadista preocupado com o desenvolvimento socioeconómico sustentável e tecnológico do seu país.

A este propósito, um deputado do Eswatini, que fazia parte da excursão, foi categórico, considerando o Ruanda um país exemplar em África.

A economia do país é predominantemente rural, com 90% da sua população a praticar agricultura, principalmente de subsistência. O Ruanda é um pequeno país africano, com cerca de 13,5 milhões de habitantes, densamente povoado e é limitado a Oeste pela República Democrática do Congo, a Sul pelo Burundi, a Leste pela Tanzania e a Norte por Uganda. As quatro línguas oficiais do país são o inglês, francês, kinyarwanda e suaili. A moeda oficial é o franco ruandês.

As cidades de Kigali, Gisenyi, Ruhengeri, Cyangugu, Gitarama, Butare, Nyanza, Bugarama, Byumba, Kibuye e Kayonza são as maiores do país. A capital Kigali, localizada a 1600 metros de altitude e considerada a mais cidade do continente, possui uma população de cerca de 1,35 milhão de habitantes.

As principais atrações de Kigali incluem o Parlamento, o Art Center Kigali, o mercado Nyabugogo, o Museu de História Natural, a Galeria de Arte Ivuka, o estádio Amahoro, o Museu do Palácio Presidencial, o Museu de Arte, o acampamento Kigali Memorial, o bairro muçulmano, a igreja Nyamata, a Igreja Ntarama, o Inema Art Center, bem como o Memorial do Genocídio, este último tivemos a oportunidade de visitar.

Mobilidade verde

FOI ainda interessante ver a disponibilidade de bicicletas públicas em várias estações de Kigali, onde passageiros podem optar por qualquer uma mediante o pagamento  on-line. Trata-se de um projecto do Executivo do Ruanda, promovido por uma empresa pública de transporte de e-mobilidade.

O governo está a estabelecer redes inteligentes de e-mobilidade que deverão estar em pleno funcionamento até 2030. Pretende-se com o projecto que os utentes partilhem bicicletas inteligentes e eléctricas das cidades para o campo e vice-versa.

Trata-se de um esquema de transporte de compartilhamento de bicicletas como parte dos esforços de Ruanda para promover a mobilidade verde, especialmente em áreas urbanas.

Tal como outros países africanos, o Ruanda também enfrenta altos níveis de desemprego, sendo uma das alternativas de sobrevivência encontrada pelos jovens o moto-táxi, conhecido localmente como “boda boda”.

O novo projecto de bicicletas inteligentes, que tem como objectivo a redução gradual dos automóveis à gasolina, está já a ameaçar a sobrevivência de muitos jovens que dependem destes empregos.

O projecto tem como benefícios a redução das emissões de carbono, poluição do ar e alívio à pressão sobre a infra-estrutura existente. O país estabeleceu o objectivo nacional amplo e inclusivo conhecido como “Visão 2020”, por forma a conduzir os ruandeses a uma transição de desenvolvimento, integrando estratégias de crescimento verde e de resiliência climática.