O G20 qualifica como “inadmissível” a ameaça relativa ao uso de armas nucleares e defende a diplomacia como meio de resolução de conflitos. China posicionou-se ao lado da Rússia para rejeitar o comunicado final.
A reunião de chefes de diplomacia do G20 terminou esta quinta-feira em Nova Deli sem um comunicado final conjunto, evidenciando as diferenças que existem entre os membros deste fórum sobre a guerra na Ucrânia.
Os anfitriões do encontro optaram por um texto de síntese dos debates realizados, onde se afirma que cada um dos países reiterou as respetivas posições em relação ao conflito desencadeado há pouco mais de um ano pela ofensiva militar russa.
“A maioria dos membros condenou categoricamente a guerra na Ucrânia e sublinhou que está a causar imenso sofrimento humano e a exacerbar as fragilidades existentes na economia global”, diz o texto final, no qual o G20 – que inclui a Rússia e a China – faz eco de que havia “outros pontos de vista” sobre este mesmo tópico.
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Embora também se reconheça que “o G20 não é o fórum para resolver questões de segurança”, o texto assinala que este tipo de questões “tem consequências significativas para a economia global”.
Da mesma forma, o respeito pelo Direito Internacional e o multilateralismo, “que salvaguarda a paz e a estabilidade”, é classificado no documento como sendo “essencial”.
O comunicado sumário também qualifica como “inadmissível” a ameaça relativa ao uso de armas nucleares e defende a diplomacia como meio de resolução de conflitos.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, aproveitou a presença no encontro para criticar as sanções adotadas contra Moscovo, por causa da invasão da Ucrânia, alegando que são “ilegais”, lamentando os limites “arbitrários” dos preços das matérias-primas ou a “manipulação dos mercados” para prejudicar a Rússia.
China ao lado da Rússia na rejeição de declaração final do G20
Entretanto, os dois países foram os únicos membros do G20 a não querer assinar a declaração que exige “a retirada completa e incondicional da Rússia do território da Ucrânia”.
O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, confirmou esta quinta-feira em Nova Deli, na Índia, que não haverá uma declaração conjunta no final da reunião ministerial do G20 e culpou os países ocidentais pelo fracasso.
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“Falámos com boas maneiras. Bem, os nossos colegas ocidentais tornaram-se muito maus nesta matéria. Não pensam mais em diplomacia, apenas fazem chantagens e ameaças a todos”, disse Lavrov aos jornalistas.
“Infelizmente não foi possível aprovar a declaração conjunta dos ministros do G20, os nossos colegas ocidentais, tal como há um ano durante a presidência indonésia, tentaram (…) com mentiras e declarações retóricas, trazer a situação da Ucrânia para o primeiro plano”, declarou Lavrov.
O chefe da diplomacia russa acrescentou que a proposta ocidental “foi apresentada com o disfarce da chamada agressão russa” à Ucrânia.
“A discussão, pelo menos nos discursos das delegações ocidentais, caiu em declarações emocionais. E tudo isso, naturalmente, prejudicou o debate normal dos problemas reais que estão na agenda do G20”, afirmou Lavrov.
O chefe da diplomacia russa enfatizou que, como resultado dessa posição dos países ocidentais, “a declaração foi bloqueada”.
Sobre o conflito na Ucrânia, Lavrov declarou novamente que a Rússia “nunca recusou propostas sérias, que são apresentadas a partir da aspiração sincera de alcançar uma solução política”, sublinhando que os países ocidentais apelam à Russia ao diálogo, mas não a Ucrânia.
O que é G20
O Grupo criado na década de 1990 e conhecido como G20 é na verdade uma organização que reúne ministros da Economia e presidentes dos Banco Centrais de 19 países e da União Europeia. Juntas, essas nações representam cerca de 80% de toda a economia global.
Os membros do G20 são: África do Sul; Alemanha; Arábia Saudita; Argentina; Austrália; Brasil; Canadá; China; Coreia do Sul; Estados Unidos; França; Índia; Indonésia; Itália; Japão; México; Reino Unido; Rússia eTurquia.
Na segunda metade dos anos 1990 houve uma série de crises econômicas e, em 1999, o G20 foi criado. A ideia era reunir os líderes para discutir os desafios econômicos, políticos e de saúde.
Naquele momento, falava-se muito em globalização e na importância de uma certa proximidade para poder resolver problemas. O G20 é, na verdade, uma criação do G7, o grupo de países democráticos e industrializados.