O antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, defendeu ontem em Mutara, Zimbabwe, que a África que “queremos está ao nosso alcance e cabe a cada um de nós tornar esse desejo numa realidade”. Disse que para alcançar este desejo, os africanos devem comprometer-se a construir e a nutrir as pontes que ligam o continente, guiados pelos princípios da unidade, solidariedade e respeito mútuo.
Defendeu ainda que África deve ser um continente onde a paz e a prosperidade são a norma, e cada indivíduo deve ter a oportunidade de realizar os seus sonhos.
Joaquim Chissano fez estas declarações quando discursava como convidado de honra e orador principal na 30ª Cerimónia de Graduação e relançamento do Instituto de Paz, Liderança e Governação da Africa University em Mutare, Zimbabwe, que decorre sobre o tema: “Construir pontes para a paz e o desenvolvimento sustentáveis: caminhos para a prosperidade da África que queremos”.
Entende o antigo Presidente que os caminhos para a prosperidade exigem de todos, um papel bem definido para a cooperação regional e internacional, porque segundo ele, num mundo tão interdependente e imprevisível, é quase impossível ser autossuficiente em todas as áreas. “Precisamos uns dos outros para colmatar as lacunas e complementarmo-nos para avançarmos juntos e desfrutarmos de padrões de vida mais elevados”.
O antigo estadista disse ainda que a construção de pontes ultrapassa todas as fronteiras. A cooperação regional e internacional é vital para enfrentar desafios transnacionais como as alterações climáticas, a migração e as ameaças à segurança. “Trabalhando em conjunto, podemos amplificar o nosso impacto e alcançar os nossos objetivos comuns”.
Joaquim Chissano, convidou as nações africanas, os líderes e os jovens a concentrarem os esforços na elaboração e implementação de políticas públicas para remover todos os obstáculos e as diferenças que ainda impedem o desenvolvimento do continente.
“Isto é possível se nos concentrarmos em agendas de desenvolvimento inclusivas, que reforcem o crescimento económico, a interdependência entre as comunidades, bem como os valores da democracia a vários níveis”, sustentou, Joaquim Chissano.
A este respeito, o antigo Presidente disse que a liderança e os líderes visionários emergem como instrumentos cruciais para construir pontes para a paz e o desenvolvimento a nível Intra e interestadual.
Referiu que a Africa University tem sido um exemplo do excelente trabalho que está a ser feito na educação e formação de líderes atuais e futuros dos nossos países. “Digo dos nossos países porque sei que esta universidade é multinacional, na qual convergem estudantes, docentes e investigadores de várias partes de África”.
De acordo com Joaquim Chissano, a viagem para uma África pacífica e próspera é um esforço coletivo, onde cada um tem um papel a desempenhar na construção de pontes para a paz e o desenvolvimento sustentáveis. “Juntos, podemos criar a África que queremos, uma África que seja um farol de esperança e progresso para o mundo”.
Chissano agradeceu o convite que lhe permitiu regressar a Mutare para participar no Relançamento do Instituto, uma vez que a Paz, a Liderança e a Governação são áreas centrais de intervenção da Fundação Joaquim Chissano, de que é patrono.
Disse que através do trabalho nestas áreas temáticas, a Fundação está a tentar dar o seu modesto contributo na conceção de caminhos para a prosperidade em Moçambique e noutros lugares, na busca de um mundo em que todos os seres humanos, famílias, comunidades, sociedades e nações podem interagir de forma interdependente para o bem comum de preservação e prosperidade da humanidade.
Construir pontes simboliza mais do que estruturas físicas.
Segundo Joaquim Chissano, no contexto africano, construir pontes simboliza mais do que estruturas físicas. Representa a essência da unidade, colaboração e apoio mútuo. Essas pontes são os caminhos que conectam nossas diversas culturas, nações e povos, promovendo um ambiente onde a paz e o desenvolvimento podem florescer.
Construir pontes significa, que, quando “falamos em pontes, o fazemos com um propósito, geralmente para a unidade. Esta unidade na diversidade, em que as nossas diferenças estão longe de ser suprimidas, é usada para extrair as forças distintas que elas oferecem formular um poderoso entendimento comum que promova a comunicação e um sentido comum de missão, criando assim as condições necessárias para uma paz sólida e um desenvolvimento sustentável das nossas nações e do continente no seu conjunto”.
Joaquim Chissano disse que pesar da rica história de resiliência e sucesso em muitas adversidades, “como africanos, ainda somos confrontados com desafios como conflitos, pobreza e desigualdade”.
Disse que estes obstáculos comprometem a busca de progresso rumo a um continente pacífico e próspero. “Escusado será dizer que a paz é a pedra angular do desenvolvimento sustentável. Sem ela, os nossos esforços para melhorar a educação, os cuidados de saúde e o crescimento económico são inúteis. Para construir pontes para uma paz sustentável, há uma infinidade de princípios e ações que devemos empreender”
Apontou como princípios e ações cidadania; diálogo e a reconciliação; reforço a governação e o Estado de direito e empoderar Mulheres, Jovens e Crianças.
Segundo o Presidente Chissano, se África não trabalhar para construir as pontes comuns a nível intraestatal, arrisca-se a cair na tragédia da desunião do passado, que foi bem explorada pelos regimes coloniais e opressores.
“E, atualmente, esse risco deve ser cuidadosamente considerado, tendo em mente que nossas sociedades estão em um processo permanente e rápido de transformações socioeconômicas e ambientais que deixam para trás muitas pessoas vulneráveis, sobretudo jovens homens e mulheres”, disse.
Com a trágica morte do Presidente Samora Machel em 1986, Joaquim Chissano foi eleito seu sucessor e liderou reformas socioeconómicas, que culminaram com a adoção da Constituição de 1990 que levou Moçambique ao sistema multipartidário e a um mercado aberto. Chissano também liderou negociações bem sucedidas com a Renamo, pondo fim a 16 anos de uma guerra desestabilizadora em 1992. Em 1994, venceu as primeiras eleições multipartidárias da história de Moçambique e foi reeleito em 1999. Apesar de estar autorizado a fazê-lo pela Constituição, decidiu voluntariamente não se candidatar nas presidenciais de 2004.
Joaquim Chissano recebeu os mais altos prémios de muitos países, incluindo o primeiro Prémio Mo Ibrahim para a Liderança Africana em 2007.