Júlio Chilaule, que defende que todas as casas devem ter um cofre
É dele a tese de que todas as famílias devem ter um cofre em casa para guardarem objectos de valor e simbólicos e assim evitar a sua perda, danificação ou mesmo serem roubados por parentes, empregados ou mesmo “amigos do alheio”. Chama-se Júlio Jacinto Chilaule, nasceu a 13 de Janeiro de 1975, na província de Maputo, distrito da Manhiça, localidade de Calanga. É casado e pai de seis filhos. Veio a Maputo com a família como refugiado de guerra dos 16 anos, um confronto militar que opunha o Governo e a Renamo, que teve o distrito da Manhiça, província de Maputo, como um dos palcos. A casa do irmão mais velho, no bairro da Maxaquene, cidade de Maputo, foi seu primeiro abrigo. O nosso entrevistado, confessa que este irmão desempenhou um papel preponderante para ser este profissional e dono do seu destino que é hoje. Porque o filho do peixe é peixe, os filhos mais velhos do empresário Chilaule também abraçaram a arte do pai. Por exemplo, António Chilaule, o filho mais velho, a concluir o curso superior de contabilidade e gestão trabalha directamente com o pai na gestão da empresa. A menina, formada em farmácia e neste momento a concluir o curso superior de enfermagem, é gestora do sector farmacêutica, outra área de interesse da família. A sua esposa é licenciada em recursos humanos, o que é muito importante para o negócio da família. É ele quem nos diz: “Sou dono do meu destino graças a arte do fabrico de cofres: Personalizados e bastante seguros”.
Júlio Chilaule: O senhor cofres
Zebra: Como entrou neste negócio de fabrico e venda de cofres?
Vivia com o meu irmão que trabalhava numa empresa de venda de cofres, que numa primeira fase eram importados de Portugal. Mas mais tarde, depois da abertura de uma fábrica de cofres em Maputo, a empresa deixou de importar e passou a adquiri-los localmente. O meu irmão identificou um especialista na área do fabrico de cofres que passou a trabalhar connosco lá em casa e, graças a Deus, aprendi a arte que é hoje minha principal fonte de renda. Deixa‐me acrescentar que quando o meu irmão viu que eu já sabia fabricar cofres propôs ao seu patrão que me contratasse e assim a empresa parava de comprar este material, a ideia foi aceite e foi lá onde fiz o meu primeiro cofre, isto no ano 2000.
Zebra: Quanto tempo ficou nesse emprego?
Trabalhei durante três anos. Em 2004 pedi aumento salarial, quando me apercebi da importância do meu trabalho, mas o meu patrão não aceitou. No mesmo ano, um senhor, que era funcionário do Banco de Moçambique, pediu‐me que fizesse um cofre para o banco e felizmente ele gostou do trabalho. Passado algum tempo, ele propôs-me uma sociedade na qual eu seria encarregado de produção e ele e mais um seu amigo respondiam pela área de administração e finanças. Aceitei o desafio, mas infelizmente esta sociedade durou apenas um ano, porque decidi retirar-me uma vez que não concordei com os moldes de gestão.
Zebra: E quando é que decide abrir seu próprio negócio?
Foi em Julho de 2009, mas comecei por trabalhar em casa, durante cinco anos, uma vez que não reunia condições, sobretudo financeiras para abrir uma empresa. Felizmente contei com o apoio dos meus clientes, os mesmos que me conheceram na fábrica e na sociedade, vinham ter comigo em minha casa, no bairro de Laulane, arredores da cidade de Maputo.
“Cumplicidade com clientes é fundamental para o sucesso do negócio”
Zebra: Trabalha sozinho ou teve outros parceiros?
Decidi passar a trabalhar com os meus filhos. Fui os introduzindo aos poucos e hoje já entendem o negócio. Por isso, tive que mudar o registo da empresa, de individual para sociedade. Evitei convidar pessoas estranhas para não ter o mesmo problema que tive em 2004. Acredito que os filhos são os nossos melhores parceiros. Eles estão conscientes que a empresa é património familiar e o seu crescimento significa o bem-estar para todos.
Zebra: Tem outra actividade para além desta?
Sim, tenho duas farmácias aqui na cidade de Maputo e trabalho com os meus filhos, formados em gestão e farmácia. Estou feliz porque eles não foram forçados a seguir os seus cursos. A minha esposa é licenciada em recursos humanos, o que é muito importante para o negócio da família. Sou pai de seis filhos, quatro meninas dois rapaz.
Zebra: Qual é o segredo para o crescimento do seu negócio?
Penso que o mais importante é ter uma relação de cumplicidade com os clientes, para garantir que voltem sempre. Fidelizar o cliente com bom trabalho, muita qualidade e, sobretudo, honestidade e humildade. O outro segredo é que os nossos cofres são personalizados e bastante seguros. O terceiro segredo é que um empreendedor não deve se preocupar com os outros. Por exemplo, existe no mercado três fábricas de cofres, mas isso não me assusta. O mercado está aberto para todos.
Zebra: Há a ideia de que o cofre é mais para pessoas ricas, que têm muito dinheiro, até em casa, bem como para grandes instituições. Porquê essa perceção?
O que acontece é que as pessoas não têm ideia da importância do cofre. Acham também que é um instrumento apenas para bancos e grandes empresas, o que é também errado, porque o cofre não serve só para guardar dinheiro. Pode ser usado para guardar documentos, joias e outros artigos valiosos. Por mim, todas as famílias deviam ter cofre em casa para evitarem ser roubados por ladrões, até pelos seus próprios parentes. O cofre serve para guardar objectos de valor e simbólicos e assim evitar perder ou mesmo danificar.
Zebra: Não será porque as famílias desconfiam dos técnicos que fazem a montagem?
Penso que isso também pode estar a concorrer para este distanciamento. Mas nós instruímos o cliente para que sozinho possa mudar as combinações do seu cofre, exactamente para tirar esta desconfiança. Depois de mudar as combinações, não há como uma outra pessoa abrir o seu cofre.
Zebra: Onde busca o suporte e inspiração para esta actividade?
Sou religioso, praticante da então Missão Suíça, hoje Igreja Presbiteriana de Moçambique. Sou um homem de muita fé, acredito em Deus e, tudo o que tenho é graças ao altíssimo, mesmo quando a resposta demora chegar não me desespero, porque sei que ela chegará.
Zebra: Algum conselho para os nossos leitores?
Para todos aqueles que pretendem abrir um negócio o meu conselho é que não procurem imitar, façam o que realmente gostam e não porque o seu amigo está a fazer. Se não sabem como iniciar um negócio, aproximem‐se as pessoas mais chegadas e peçam conselhos e orientações, eu mesmo já ajudei muitos amigos nesse sentido.
A humanidade e os cofres
Os cofres se tornaram necessários na história da humanidade desde que apareceram os primeiros objetos de valor. Entenda como “objeto de valor” qualquer coisa que precisa ser guardada e protegida!
Atualmente, podemos fazer uma lista de bens e documentos que precisam ser preservados. Por isso, os cofres abrigam dinheiro, joias, documentos de Estado, projetos de engenharia ultrassecretos, registos de posses e aplicações, armas de fogo, peças raras e até cartas especiais!
Os cofres nasceram junto com o segredo e o valor e, como o ser humano se aprimorou na arte de produzir informações e de gerar riquezas, estas estruturas de segurança se tornaram indispensáveis.
Os primeiros cofres surgiram no Egito Antigo, junto com a riqueza. Naquele tempo, os cofres tinham basicamente dois formatos: de pirâmide e de baú. Densos e pesados, não eram rompidos facilmente.
Como o formato de pirâmide era muito delimitado ao Egito, o baú passou a ser utilizado como modelo de cofre universal por muitos anos, alguns feitos de madeiras nobres e outros forjados em metal, ambos abertos e fechados com chave.
Os clássicos cofres de baú estiveram nos navios de piratas, lotados de moedas de ouro, mas também foram usados em igrejas antigas, castelos e feudos. Os cofres de baú ficaram famosos por causa das histórias e lendas dos ladrões dos mares, que levavam grandes quantias de dinheiro, saqueadas de navios ingleses, holandeses, português e espanhóis entre os séculos 16 e 17.
Este tipo de cofre baú tinha apenas uma única chave e era feito com a união de madeira nobre e peças de aço, ambos resistentes à maresia, já que o mar era a única rota comercial percorrida pelos europeus interessados em fazer transações rentáveis com as Índias e a China.
O cofre e a pirataria
A pirataria foi se tornando uma atividade criminosa menos regular a partir do século 18, porém o modelo de cofre baú já havia se estabelecido no mundo e funcionava bem. A partir do século 19, novas tecnologias foram empregadas no desenvolvimento de cofres, que passaram a ser mais modernos, com sistemas mecânicos de senhas numéricas, de 0 até 99; e estrutura robusta, que não permitia arrombamento.
A partir do século 20, os cofres ficaram ainda mais tecnológicos e passaram a ser construídos com estrutura mais moderna, com qualidades diferentes.