Ver as mulheres apenas como vítimas passivas do conflito pode não trazer a complexidade da situação. De forma voluntária ou forçada, por convicção ou sem alternativa, por revolta ou oportunismo, buscando proteção e vantagens económicas, grupos de mulheres estão a desempenhar um papel ativo na guerra de Cabo Delgado, participando como observadores e provedores de informação, no fornecimento de apoio logístico e camuflagem, como recrutadores, vigilantes e até guerrilheiros, relata João Feijó, coordenador de pesquisa do Observatório Rural (OMR), que em abril deste ano, publicou um relatório sobre os insurgentes intitulado “O Papel das Mulheres no Conflito em Cabo Delgado.
Na segunda parte do estudo, a partir de entrevistas com mulheres que fugiram das zonas de conflitos, fica evidente nas informações dos entrevistados que as mulheres podem estar a participar de forma activa no conflito.
“Relatos dos residentes de Mocímboa da Praia falam de diferentes formas como as jovens se envolveram com o movimento rebelde, seja no apoio logístico e camuflagem, escondendo equipamento militar ou jovens rebeldes, seja como espiãs e observadoras dos movimentos do exército moçambicano”.
Não faltam histórias de jovens locais, também conhecidos como “atiradores de elite, que se envolveram com os militares para obter informações.
Particularmente após o ataque de 23 de Março de 2020 a Mocímboa da Praia, houve vários relatos de familiares membros que visitam as bases dos insurgentes para verificar as suas condições de vida. Outros testemunhos falam de mulheres locais que cozinham para os “machababos”, voluntariamente ou por escolha, durante o ataque a Palma, em Março de 2021.
Por outro lado, embora a maioria dos rebeldes armados são homens, houve relatos de algumas mulheres que participam activamente nos ataques militares. Tanto em Quissanga como em Mocímboa da Praia foram observadas mulheres armadas, algumas delas registadas, às vezes assumindo papéis de liderança,com poder de decisão sobre o futuro dos prisioneiros”.
Mulheres também são vítimas
Mas as mulheres também são vítimas importantes de sequestro, estupro e, suspeita Feijó, de tráfico de pessoas com “muitas centenas de meninas” raptadas.
“Embora todos se sintam como possíveis alvos de ataque, a realidade é que os grupos sociais mais visados são membros do governo e indivíduos economicamente ricos”, que também têm mais capacidade de fugir, podem pagar pelo transporte e chegar a parentes em cidades fora a zona de guerra.
São as mulheres mais pobres que fogem para o mato com os filhos e sem comida e que sofrem com a falta de cuidados de saúde. Essas mulheres que vivem de agricultura familiar, são obrigadas a abandonar suas machambas a procura de segurança.