Interesses da França no gás em Moçambique levam Paris a aproximar-se de Pretória, mas o que não se sabe é de que lado se manterá Pretória, que tal como Paris pressiona Moçambique no dossier sobre Cabo Delgado.
Recentemente, o Presidente de França, Emmanuel Macron, efectuou uma visita à África do Sul, na qual levava o terrorismo em Cabo Delgado como uma das principais preocupações a debater com o seu homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa.
Tanto um como outro parecem não ter conseguido convencer o Presidente Filipe Nyusi a baixar a guarda e a aceitar uma intervenção militar externa no norte de Moçambique.
Segundo os mídias sul africanos, o Presidente Filipe Nyusi reuniu-se com Macron à margem da cimeira França-África, a 18 de maio, mas daí nada saiu de concreto. Também no contexto da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), depois do encontro de Paris, a possibilidade de uma intervenção regional continua no papel.
Acredita-se que a aproximação de Paris a Pretória visa uma conjugação de esforços para convencer Maputo a aceitar ajuda militar externa?
O alemão André Thomashausen, especialista em direito internacional residente na África do Sul, deixa sua opinão sobre o assunto: “Penso que diplomaticamente vão continuar alguns contactos e esforços, porque parece ser a posição, especialmente da África do Sul, de que deveria haver uma intervenção militar para evitar o escalar e o alastramento da situação para o resto da região, inclusive para a África do Sul.”
Mas o académico acredita que “essa posição tipicamente sul-africana já não tem um apoio por parte da França. A França, através da sua inteligência, tem consciência de que os efetivos da África do Sul são muito limitados.”
Entretanto, ainda segundo os mídias, Cyril Ramaphosa, no contexto da visita de Emmanuel Macron, fez uma gentileza a Moçambique, ao repetir a posição de Maputo, “ qualquer apoio só no âmbito de uma relação bilateral, enquanto Estados soberanos”.
Já para o Joseph Hanlon, pesquisador norte-americano a residir na Inglaterra, o que está a acontecer é um jogo de charme entre França e Moçambique e que a África do Sul parece já ter escolhido o lado que quer apadrinhar. Sobre a aproximação Paris-Pretória, Joseph Hanlon, afirma que “nada está claro. Mas a Total disse que não vai regressar até haver paz e uma segurança séria, pelo menos no norte de Cabo Delgado”.
Hanlon desconfia que “a França provavelmente vai dar apoio naval, mas Moçambique e parte dos que apoiam a FRELIMO não querem um número grande de tropas estrangeiras em Cabo Delgado.”
Mas o Alemão Thomashausen lembra que “quem decide é o Governo de Moçambique, porque é um país soberano e vai determinar o que vai acontecer em Cabo Delgado.”
Enquanto o braço de ferro persiste, o projeto de gás da petrolífera francesa, com que Moçambique sonha para sair do sufoco e pagar as suas dívidas, continua em banho-maria.
Mas para permanecer em pé, mesmo que só com uma perna, o país conta com um parceiro de luxo: os EUA. O académico alemão afirma que “Moçambique está bastante satisfeito com a contribuição dos EUA” e lembra que já foi completado um primeiro curso de formação de uma brigada de especialistas contra o terrorismo e está em vias de começar o segundo curso.
Thomashausen conta também que “os EUA convidaram o ministro da Defesa moçambicano, Jaime Bessa Neto para Washington, em junho, e parece que vai haver um reforço da cooperação” para a segurança.
“Não devemos esquecer que a Total é uma empresa controlada por acionistas americanos”, lembra André Thomashausen, “mais de 75% do total social da Total é detido por fundos e investidores americanos.”