As ex-combatentes da Renamo afirmam que foram bem acolhidas nas comunidades, mas reclamam da morosidade no cumprimento das promessas feitas aquando do Desarmamento e Desmobilização (DD). Elas Também manifestam insatisfação em relação à tabela de fixação da pensão aprovada pelo Governo, no valor de mil e duzentos meticais (1.200,00mts), equivalente a menos de 20 dólares.
De acordo com as ex-combatentes, nem a pensão, nem os terrenos, e tampouco projectos de negócios que seriam financiados no âmbito do DDR, tornaram-se realidade. Linda Saise, uma da ex-combatentes, declara: “ Nos bairros , as lideranças locais convivem muito bem connosco, o problema é dinheiro e outras promessas que foram feitas. Ainda não recebemos o talhão prometido até hoje e os projetos que seriam financiados , também não avançaram nada.”
Amélia Sithole, outra desmobilizada da Renamo, manifestou o seu descontentamento em relação à tabela de fixação da pensão , afirmando: “Não estamos satisfeitos com o valor que o governo aprovou. Mil e duzentos meticais só compra saco de carvão , e o que vamos comer? A vida em Moçambique está cara , até o salário mínimo são 7 mil meticais. Esse dinheiro não chega para nada.” Amélia, durante a sua intervenção , manifestou interesse em voltar a estudar, mas lamenta a falta de recursos.
Entretanto, o director de Programas do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), Dércio Alfazema, defende que a reintegração das ex-combatentes da Renamo, no âmbito do Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), processo encerrado este ano, não pode se limitar à dimensão formal definida nos acordos políticos, destacando a necessidade de se avançar num modelo de reintegração que seja sustentável a médio e longo prazo.
Alfazema, que falava na abertura da primeira Sessão do Diálogo Regional Centro entre Mulheres e as Lideranças Locais, na cidade de Chimoio, centro de Moçambique, disse que a reintegração destas mulheres deve estar de acordo com a realidade local.
Explicou que , para ser sustentável, a reintegração das ex-combatentes deve ter em conta a dinâmica política, económica e social. “ As comunidades acolhedoras devem ser preparadas para receber e integrar as ex-combatentes nos mecanismos locais de geração de renda, nos movimentos associativos, nas plataformas de diálogo comunitário, nas actividades culturais , entre outras”, disse Alfazema, destacando a necessidade de se envolver lideranças locais.
“Neste processo é fundamental o envolvimento das lideranças locais , religiosas e das organizações locais. A reintegração não pode se limitar à implementação dos acordos , do papel do governo e das lideranças da Renamo. Quem conhece as comunidades e os modelos como se articulam são estes actores”, disse Alfazema.
Segundo Alfazema, no âmbito da iniciativa PROPAZ, o IMD vai realizar sessões de formação para associações locais e para mulheres ex-combatentes para que possam estar mais habilitadas a explorar oportunidades de geração de renda e diálogar com as autoridades locais.
“Estas mulheres vão precisar de treinamento para identificar e melhor explorar as oportunidades existentes nas comunidades onde estão inseridas. Devem se tornar relevantes para as comunidades, participar na busca de soluções para os problemas existentes e envolver-se activamente na implementação das agendas locais de promoção do desenvolvimento”.
Falando na abertura do encontro na cidade de Chimoio, a directora Provincial do Género, Criança e Acção social, Ema Vanessa Catana, em representação da Governadora da Província de Manica, disse que o Governo está a trabalhar para a integração das ex-combatentes na vida socioeconómica, nos processos de desenvolvimento da Paz e reconciliação nacional.
Ela reconheceu que ainda existem desafios no processo, mas insta a todos a lutarem em conjunto para que se consiga alcançar o sucesso almejado. “Esta luta inclui partidos políticos, organizações da sociedade civil e outros extractos da sociedade. Só podemos alcançar o sucesso e o desenvolvimento se a mulher for integrada nestes processos, fazendo com que a sua participação seja efectiva. Devemos incluir mulheres ex-combatentes, pessoas com deficiência, enfim, todos os extractos sociais” disse Catana.
Mais adiante, a directora provincial explica que “não basta promover e distribuir kits de empoderamento económico. É preciso também criar capacidades em matéria de gestão de negócios para que essas mulheres tenham ferramentas e noções básicas ”, e acrescenta que “é preciso que os processos de capacitação sejam completos, para que as mulheres capacitadas façam réplicas nas suas comunidades”.
A governante explica que mais de 3 mil mulheres se beneficiaram de projectos de geração de renda na província este ano.“Aqui na província de Manica estamos a trabalhar como sector integrado no Conselho Executivo Provincial, na componente de empoderamento económico , com apoio de parceiros. Só para ilustrar, cerca de 3600 mulheres foram integradas este ano para liderar alguns projectos de geração de renda”.
O encontro decorreu no âmbito do Projecto “PROPAZ – Cultura de Promoção de Paz, Reconciliação e Coesão Social”, implementado pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) e financiado pela União Europeia.