Em entrevista interessante, a nutricionista francesa Sophie Deram fala sobre o “terrorismo nutricional” e aponta hábitos saudáveis para combater a obesidade.
A nutricionista francesa Sophie Deram, naturalizada brasileira há décadas, ganhou fama após a publicação de seu best-seller “O peso das dietas”, que questiona os benefícios da restrição alimentar. Além de criticar o “terrorismo nutricional” das dietas, ela aponta bons hábitos para combater, principalmente, o problema da obesidade infantil. Nessa batalha, Sophie considera importante, por exemplo, que as famílias preservem as refeições, café da manhã, almoço ou jantar, em família.
Segundo ela, hoje, infelizmente, as pessoas vê que tem muita ansiedade, culpa e dificuldade de saber o que comer, inclusive dificuldade de saber como lidar com os filhos. “Comecei minha pesquisa e meu ativismo contra dietas em crianças, mesmo as obesas. Sempre falo: “não faça dieta”. Quando os pais submetem uma criança que está em crescimento em dietas, estão a jogar uma bomba no seu cérebro, e a criança só fica obcecada por comer. Aumenta o apetite e altera toda a relação da criança com a comida.
Adianta ainda a nutricionista que restrição, no sentido de emagrecer, é prejudicial. Não comer carboidrato à noite é um mito, não tem sentido científico. “Temos que deixar de ficar com nossas crenças cada vez mais rígidas, pensando que têm regras absolutas. Infelizmente, as pessoas estão perdidas. Na França, na Itália e no Japão, por exemplo, as pessoas comem carboidratos à noite e as suas populações não são obesas. Não é o carboidrato à noite que vai mudar o patamar. Dentro do seu dia a dia, é interessante ter refeições adequadas, um café da manhã com cara de café da manhã, o almoço a mesma coisa, lanche da tarde, jantar”, explica.
Outro mito que é desmistificada por Sophie é o de comer a cada três horas. “Se você tomou um bom café da manhã, você não vai ter fome depois de três horas. Se você comer sem fome, pode aumentar a glicemia e o risco de engordar. Não são as regras rígidas que devem ser seguidas, mas o importante é escutar o seu corpo”, disse.
Para evitar a obesidade dos filhos, o papel deles é de disciplinar-os, estabelecer rotinas, mas também oferecer qualidade. Pode ser alimento industrializado de vez em quando, mas de preferência comidas “verdadeiras”, feitas em casa.
A nutricionista acrescenta que não precisa ser 100%, mas não dá para depender da indústria para nutrir o filho. Mesmo que os pais sejam responsáveis pela rotina e qualidade da alimentação, o dono da fome é a criança. Por isso, quem não respeitar essa fome enfrentará uma criança com apetite cada vez maior e com mais vontade de comer escondido.
Refeições em família
Sophie sublinha as refeições em família e diz que são essenciais. “Hoje, quando avaliamos os fatores que aumentam a prevenção contra a obesidade, há algumas coisas: comer juntos, respeitar os horários e ser ativo fisicamente, não ficar muito preso à TV. Nesses fatores, não entra comida. É mais uma questão de rotina, de qualidade de vida, do que o que a criança vai comer. A dica que dou aos pais é que não fiquem obcecados por dietas, mas mudem o meio ambiente da criança, deixem com mais horário para dormir, com uma rotina bem estabelecida, tomar café antes de ir para a escola, almoçar bem, comer um lanche da tarde e jantar. De preferência, tentar fazer uma refeição juntos”.
A nutricionista tem consciência que isso é difícil hoje em dia, mas para quem não consegue jantar, pode tentar fazer um café da manhã. Se não dá durante a semana, tente no final de semana. “Comer junto é associado não somente a uma criança que come melhor, que aceita mais legumes e frutas,, mas também uma criança que tem menos risco de obesidade, que vai melhor na escola e tem menos risco de consumir drogas na adolescência”, disse salientando que comer junto é uma das coisas mais importantes na dinâmica familiar.
Mudar hábitos alimentares das crianças
Sobre como mudar os hábitos alimentares, principalmente os das crianças, Sophie aponta que primeiro, é preciso que mudem os país, porque o exemplo é muito importante. “Não adianta falar de criança se o próprio adulto não mudar. Reveja suas crenças sobre nutrição, pare de fazer dieta o tempo todo e pare de chamar as crianças de gordas e dizer que têm que parar de comer açúcar, lactose, glúten. Isso assusta. É preciso ter uma atitude mais tranquila à frente da comida, dando o exemplo”.
Explica que com bons exemplos dos pais, a criança vai seguir automaticamente, sem esforço, sem precisar fazer uma revolução, o que é interessante e é o progresso, não a perfeição. “ Aos poucos, tente comer com horários mais regulados, cozinhar mais, almoçar ou jantar com os filhos”, adianta.
Em relação a dicas de alimentação para os pais que querem mudar os hábitos, a nutricionista explica que ao contrário do que muitos dizem, não é todo alimento industrializado que é ruim. “ Não gosto da dicotomia alimento bom, alimento ruim’. Escutamos cada vez mais que temos que comer tudo natural, mas há exageros. A indústria produz alimentos de qualidade, mas tem que ser esperto, não depender só da indústria. Os alimentos mais importantes a serem diminuídos são os ultraprocessados. São três dicas básicas: não faça dieta, coma mais alimentos “verdadeiros” e menos industrializados (não quer dizer zero) e cozinhe.
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