ORIGEM DO TERRORISMO: Bispos moçambicanos afirmam que há grupos interessados no gás natural em Cabo Delgado

Os bispos católicos moçambicanos manifestaram recentemente a sua preocupação e afirmam estarem com o “coração cheio de tristeza”, devido à situação trágica por que passa a população de Cabo Delgado, particularmente “com a insegurança alimentar e fome que afectam outras populações do país”.

Para os Bispos, há interesses de vária natureza e origem, nomeadamente de certos grupos de se apoderarem da nação e dos seus recursos, sobretudo no gás natural que coloca o país nas dez nações com maiores reservas deste hidrocarboneto a nível mundial.
A Conferência Episcopal de Moçambique (CEM), um órgão da Igreja Católica que junta todos os bispos do país, convocou a imprensa para apresentar as conclusões da sua primeira sessão plenária de 2021, que se realizou semana passada em Maputo.
Segundo o porta-voz do órgão, padre João Carlos, a Igreja Católica deplora e condena todos os actos de terrorismo cometidos em Cabo Delgado, que já provocaram centenas de mortes e mais de 700 mil deslocados.
“Em Cabo Delgado pessoas indefesas são mortas, feridas e abusadas. Elas vêem seus bens pilhados, a intimidade dos seus lares violada, suas casas destruídas e cadáveres de seus familiares profanados. São obrigadas a abandonarem a terra que os viu nascer e onde estão sepultados os seus antepassados. Estes nossos concidadãos, a maioria mulheres e crianças, são empurrados para o precipício da insegurança e do medo”, afirmou o porta-voz ao ler o comunicado, que destaca não haver “indicações claras de que a breve trecho haverá superação das causas que alimentam este conflito”.

“Este estado de coisas faz crescer e consolidar a percepção de que por de trás deste conflito há interesses de vária natureza e origem, nomeadamente de certos grupos de se apoderarem da nação e dos seus recursos”, que em lugar de serem postos ao serviço das comunidades locais e tornarem-se fonte de sustento e de desenvolvimento, com a construção de infraestruturas, serviços básicos, oportunidade de trabalho, “são subtraídos, na total falta de transparência, alimentando a revolta e o rancor, particularmente no coração dos jovens, e tornando-se fonte de descontentamento, de divisão e de luto”.

A CEM manifesta a “sua total solidariedade e proximidade com os mais fracos, necessitados e vulneráveis, estes que caíram no leito de um desespero sem precedentes”.

A CEM reúne-se duas vezes ao ano para analisar o trabalho da Igreja e fazer uma análise da situação do país.