No poder desde 1986, Mswati III, que tem 14 mulheres e mais de 25 filhos, é alvo de críticas pelo seu punho de ferro e pelo seu estilo de vida luxoso num país em que dois terços dos 1,3 milhões de habitantes vivem abaixo do limiar da pobreza. O rei foi coroado com apenas dezoito anos e está no poder há mais de trinta.
Os protestos são raros no Essuatíni, um pequeno Estado na fronteira entre Moçambique e África do Sul que até há poucos anos tinha o nome de Suazilândia. Os partidos políticos estão proibidos há décadas, e nas últimas semanas irromperam protestos violentos em partes do território contra aquela que é a última monarquia absoluta de África.
Os protestos já causaram a morte de pelo menos oito pessoas e outras dezenas ficaram feridas em confrontos entre a polícia e manifestantes segundo ativistas pró-democracia.
A situação é descrita como sendo péssima, com as violentas manifestações, assaltos e pilhagens, dificultando circulação de cidade em cidade.
O Governo do Essuatíni declarou ontem (30 de Junho), a lei marcial a nível nacional, assim como um recolher obrigatório entre as 18:00 e as 5h00 locais. Da mesma forma, as autoridades suspenderam de forma indefinida todos os voos para o aeroporto internacional King Mswati III.
A população está indignada com o rei Mswati III, a quem acusam de esvaziar os cofres públicos. O pequeno país monárquico seguiu o exemplo de outros países africanos e em 2018 recuperou o nome original antes de ser colonizado pelos britânicos, voltando a chamar-se o Reino de eSwatini.
Naquele país, a poligamia é comum e as mulheres são consideradas propriedade dos maridos e os casos de violência e abusos sexuais sobre as mulheres são frequentes.
O desenvolvimento económico-social é muito baixo e, para muitas mulheres, a eleição como rainha é a única forma de alcançarem uma vida melhor ou, pelo menos, diferente daquela para que estão predestinadas.
dois terços dos seus súbditos são alimentados por ajuda internacional, 34% da população ativa está desempregada e mais de metade vive com menos de um dólar por dia.
Em recessão desde 2015, eSwatini amarga uma taxa de desemprego elevada até para os padrões africanos: 28%. Não bastasse, 63% de seus habitantes vivem abaixo da linha da pobreza. O país é líder mundial na prevalência de HIV – 27% da população contraiu o vírus e a expectativa de vida, para ambos os sexos, não supera os 60 anos.
A riqueza do rei
O reino de eSwatini conserva o mesmo sistema de poder que adotava no período colonial. O Executivo, o Legislativo e o Judiciário subordinam-se a Mswati III, que escolhe o primeiro-ministro e, em última instância, toma todas as decisões. Abaixo dele, a figura mais influente é sua mãe, a rainha Ntombi Tfwala, ou a Grande Elefanta, líder espiritual da nação.
Cada companheira do rei usufrui de um palácio e de inúmeras mordomias.
Considerado pela revista Forbes um dos homens mais ricos do continente africano, Mswati III acumula uma fortuna de aproximadamente 200 milhões de dólares e vive como os extravagantes monarcas do Oriente Médio. Possui dois jatos, carros de luxo e palácios suntuosos.
A cana-de-açúcar é a principal atividade econômica do reinado, que também conta com jazidas de diamantes, carvão, ferro e amianto. O país integra a União Aduaneira da África Austral, área de livre-comércio que inclui outras quatro nações: Botsuana, Lesoto, Namíbia e a poderosa África do Sul. As transações garantidas pelo acordo respondem por mais da metade do PIB de eSwatini, que gira em torno dos 4 bilhões de dólares.
Os privilégios da família real saltam aos olhos. Vão desde a inimputabilidade até o não pagamento de impostos. Empresas da realeza atuam tanto no setor público quanto no privado. É o caso da holding Tibiyo TakaNgwane, comandada pelo próprio Mswati III, presente em quase todas as áreas econômicas: da companhia estatal de açúcar à Parmalat Swaziland, de bancos a um dos dois jornais do país, o Swazi Observer. A modesta redação do diário ostenta um quadro que traz seus princípios editoriais: respeitar a monarquia e conceder-lhe o direito de vetar a divulgação de “assuntos sensíveis”.
Mswati III sucedeu ao seu pai, Sobhuza II, em 1986.