“Sol artificial” da China quebra próprio recorde mundial de operação

Reator nuclear conseguiu manter plasma de altíssima energia confinado por 1.066 segundos, ou quase 18 minutos Cientistas afirmam que o “sol artificial”, reator nuclear da China, mais do que dobrou seu próprio recorde mundial anterior, confinando plasma de energia extremamente alta por incríveis 1.066 segundos esta semana — o recorde anterior, de 403 segundos, foi estabelecido em 2023.

Usando o reator experimental conhecido como Tokamak Supercondutor Avançado Experimental (EAST), os cientistas aqueceram o plasma a temperaturas superiores a 100 milhões de graus Celsius e conseguiram conter a sopa de átomos em turbilhão por mais de 17 minutos.

O objetivo é essencialmente recriar os processos que alimentam estrelas como o Sol dentro de reatores de fusão nuclear aqui na Terra como uma forma de produzir uma fonte renovável de energia verde — sem correr o risco de um colapso nuclear, que ainda persiste em reatores de fissão, como a usina de Fukushima Daiichi, que derreteu em 2011.

“Um dispositivo de fusão deve alcançar uma operação estável com alta eficiência por milhares de segundos para permitir a circulação autossustentável de plasma, o que é fundamental para a geração contínua de energia de futuras usinas de fusão”, disse o diretor do Instituto de Física de Plasma da Academia Chinesa de Ciências (ASIPP), Song Yuntao, em um comunicado.

Reatores de fusão

 O EAST é um reator em forma de rosca projetado para confinar plasma altamente energizado girando em um loop. No entanto, para conseguir a ignição ou chegar ao ponto em que a reação possa se autossustentar, ainda são necessárias grandes quantidades de energia, muito mais do que a quantidade que está sendo gerada.

No entanto, os cientistas têm esperança de que os futuros reatores possam inverter essa equação. O caríssimo Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER), na França, por exemplo, poderia preparar o terreno para futuros projetos de reatores de fusão que poderiam transformar a ideia da energia de fusão em realidade, segundo exemplifica o site Futurism.

Mas teremos que ser pacientes até descobrirmos se isso é mesmo possível. Não se espera que as operações no ITER comecem pelo menos até 2039, apesar de o reator ter terminado sua construção há mais de meio ano.

Como o sol artificial funciona?

O reator EAST, um tokamak de confinamento magnético, simula os processos que ocorrem no núcleo do Sol, mas com um detalhe audacioso: temperaturas até sete vezes mais quentes que as do astro-rei. Enquanto o Sol conta com a gravidade extrema para fundir átomos, os cientistas na Terra precisam compensar com calor e campos magnéticos poderosos. No experimento mais recente, o plasma foi aquecido a incríveis 70 milhões de graus Celsius por quase 18 minutos, de acordo com a agência estatal chinesa.

Mas por que isso importa? A fusão nuclear oferece uma alternativa promissora aos combustíveis fósseis, sem emissões de gases de efeito estufa e com a vantagem de produzir pouco resíduo nuclear. Embora ainda seja um sonho distante, cada conquista aproxima essa realidade.

Os desafios na busca pela fusão nuclear

Manter plasma estável por períodos prolongados é um dos maiores desafios para os pesquisadores. Para que reatores de fusão sejam viáveis, é necessário alcançar um estado conhecido como “ignição”, no qual o próprio processo de fusão gera energia suficiente para se sustentar. Ainda estamos longe disso, mas o progresso do EAST é significativo.

“O objetivo é operar de forma estável por milhares de segundos, condição essencial para plantas de energia de fusão no futuro”, explicou Song Yuntao, diretor do Instituto de Física de Plasma da Academia Chinesa de Ciências.

Apesar do avanço, o reator consome mais energia do que produz. Experimentos em outras partes do mundo, como o National Ignition Facility nos Estados Unidos, também enfrentam o mesmo desafio. Em 2022, esse laboratório alcançou um marco ao atingir a ignição no núcleo do plasma, mas o consumo energético geral ainda superou a produção.

O papel do ITER na corrida global

Embora o foco esteja no reator chinês, a corrida pela fusão nuclear é global. O maior projeto internacional dessa área é o ITER (Reator Termonuclear Experimental Internacional), atualmente em construção no sul da França. O ITER reúne esforços de dezenas de países, incluindo Estados Unidos, Japão e Rússia, e será equipado com o ímã mais poderoso já criado. Sua ativação está prevista para 2039, e ele deve servir como plataforma de pesquisa para reatores futuros.

Os dados obtidos pelo EAST são fundamentais para o ITER e outros projetos. Melhorias técnicas, como o aumento da potência de seus sistemas de aquecimento, mostram como avanços incrementais podem gerar resultados revolucionários.

Fusão nuclear: uma solução para o futuro?

Embora promissora, a fusão nuclear não é uma solução imediata para a crise climática. Os cientistas estimam que ainda levará décadas até que essa tecnologia esteja disponível em larga escala. Porém, cada passo à frente fortalece a possibilidade de um futuro onde a energia seja praticamente infinita, acessível e limpa. Ao observar a evolução da fusão nuclear, fica evidente que ciência e cooperação internacional são essenciais. O “sol artificial” pode estar longe de iluminar nossas cidades, mas o brilho de seu potencial já começa a aquecer as expectativas globais. https://iclnoticias.com.br/