O Professor Catedrático de sociologia e estudos africanos, Elísio Macamo, não concorda que o bem-estar, numa sociedade democrática, decorre apenas da aprovação de uma constituição e, nunca estaria a favor da violência para alterar o sistema político do país.
O académico, que falava ontem em Maputo, durante o lançamento do seu livro com o título, “fazer as coisas com cabeça”, na Universidade Pedagógica de Maputo, (UP-Maputo), disse que por estas e outras razões é mais pela reforma e pela via pacífica, porque nenhuma causa pode ser nobre se para sua materialização tiver que violar direitos dos outros.
Segundo Macamo, há muita gente que pensa que o bem-estar, numa sociedade democrática, decorre apenas da aprovação de uma constituição. No entanto, é sempre necessário lutar-se pelos direitos constitucionais, pois nada, em política, é dado de bandeja.
Enfatizou que os países mais estáveis são os que mudaram o seu sistema político de forma pacífica, porque violência chama violência.
Sobre o actual contexto social e político do país, Elísio Macamo disse que uma das formas mais seguras de validar o que se pensa saber é através da ciência. “Na ciência não é válida a percepção de que se deve reger pelo modelo democrático, ou seja, o que a maioria decide é o que está correcto. Não. A ciência faz-se valer de acordo com os seus próprios critérios”, defende.
Defendeu ainda que uma sociedade morre, quando não se preocupa em debater os métodos das questões. “Até porque no país, articula-se muito a opinião de uma pessoa com a pessoa. “Temos dificuldades de separar o que a pessoa está a dizer com quem é”.
Segundo Macamo, é sensato que se procure compreender como se pode pensar o país de maneira que se limite os danos das pessoas que cometem erros.
Editado pela Ethale Publishing, “Fazer as coisas com a cabeça” reúne textos que constituem força motriz para mudança de mentalidades.
Macamo lança o seu livro numa altura em que o país enfrenta uma crise política após eleições de outubro de 2024, caracterizada por protestos violentos liderados por Venâncio Mondlane, ex-candidato das eleições presidenciais de 2024, que já resultaram em mais de 315 mortes e centenas de detenções.
Esta situação é acompanhada de um nível de destruição enorme de infraestruturas e estabelecimentos públicos e privados. Há também uma polarização visível no seio da sociedade moçambicana, resultante de crenças e valores políticos que intensificaram após as eleições.