E consideram que a retirada militar estrangeira “é uma boa oportunidade porque permite ao “Afeganistão e ao respetivo povo tornarem-se independentes.
O fim da “invasão” americana e a formação de um governo islâmico são as grandes prioridades do regime talibã, agora no poder no Afeganistão. Enquanto houver tropas estrangeiras no país, a “invasão” continua e “os afegãos são muito sensíveis neste tema”, avisa um porta-voz do grupo.
O movimento insurgente divide-se em diversas fações pelo país e isso tem resultado em posições dissonantes para o exterior sobre o futuro do povo afegão.
À margem da violência que se têm feito sentir na capital, nomeadamente através de um gravíssimo atentado junto ao aeroporto de Cabul e às alegadas ameaças, entretanto neutralizadas com mísseis pelos Estados Unidos, Zabihullah Mujahid, um dos porta-voz do regime agora no poder no Afeganistão, sublinhou as duas grandes prioridades do novo governo estabelecido pelas armas após um acordo alcançado com os Estados Unidos ainda durante a Administração Trump.
O representante talibã garantiu que o objetivo é proporcionar “estabilidade” para que os afegãos possam usufruir do “direito de viver em paz”.
“Queremos ter boas relações com todos os países, porque o povo afegão e o nosso país, que tanto sofreram devido à guerra, precisam de ter boas relações. No entanto, qualquer presença militar restante no país será vista pelos afegãos como o continuar da invasão.Os afegãos são muito sensíveis neste tema. Os que falam disto não conhecem o Afeganistão”, disse Zabihullah Mujahid .
Mujahid acrescentou depois numa conferência de imprensa à distância que a retirada militar estrangeira “é uma boa oportunidade tanto para os americanos como para os afegãos” porque permite ao “Afeganistão e ao respetivo povo tornarem-se independentes” e “aos americanos acabarem uma guerra com vinte anos”.
Enquanto isso, as Nações Unidas pede aos talibãs que honrem o que prometeram e garantam uma vida livre a todos no Afeganistão, assim como que deixem sair quem o deseja fazer. É a essência da resolução redigida pelos Estados Unidos, Reino Unido e França, votada no Conselho de Segurança das Nações Unidas e aprovada com 13 votos a favor. A China e a Rússia abstiveram-se.
“A resolução 2593 deixa clara a nossa expectativa de que qualquer afegão ou estrangeiro que queira deixar o Afeganistão o possa fazer de forma segura, seja por via aérea ou pelas fronteiras terrestres”, disse a embaixadora do Reino Unido na ONU, Barbara Woodward.
Em entrevistas e várias declarações, os talibãs prometeram um regime mais suave e mais respeitador dos cidadãos do que o que vigorou nos anos 90, antes da invasão norte-americana.
No entanto, a comunidade internacional tem dificuldade em acreditar nessa narrativa e teme pelos direitos humanos, em especial das mulheres. O presidente francês, Emmanuel Macron exige respeito dessas liberdades para que haja um reconhecimento internacional do regime talibã. Há notícias de atos de vingança por parte dos novos donos do poder no Afeganistão, o que faz temer o pior em termos de respeito pelas liberdades.
Alemanha alerta para crise de refugiados afegãos
A Alemanha alertou esta semana para a urgência de uma crise de refugiados depois da retirada dos EUA do Afeganistão. As consequências da saída dos EUA do Afeganistão começam a aparecer. Os líderes europeus lutam para responder ao fluxo migratório e concentram-se na relação política com aquele que é o novo poder no afeganistão, os Talibã.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha visitou o Catar, onde admitiu que “todos os envolvidos estão absolutamente cientes da urgência e também sabem que sem cooperação internacional não será possível controlar esta situação extraordinariamente difícil”.
Heiko Maas diz também que “não há como contornar as negociações com os Talibã”, por haver uma necessidade de “resolver problemas” como a “operação contínua do aeroporto” e, por outro lado, por “não podermos permitir a instabilidade no Afeganistão.”, explicou o ministro alemão.
O Catar também tem recebido refugiados do Afeganistão, e antes de Cabul ser tomado, desempenhou um papel de mediador entre as duas partes, governo afegão e talibãs.
Agora, pedem aos talibã que se comprometam a acabar com o terrorismo.
Talibãs asseguram que mulheres terão espaço no governo
OS responsáveis Talibãs que instauraram o Emirado Islâmico depois da reconquista de Cabul anunciaram uma amnistia geral para os funcionários do Estado e urgiram as mulheres a fazerem parte do governo.
De acordo com a Associated Press(AP), que cita a declaração transmitida pela televisão, as forças Talibãs indicaram que “não querem que as mulheres sejam vítimas” urgindo-as a fazerem parte do governo não tendo especificado que tipo de medidas vão ser adotadas nesse sentido.
A televisão estatal afegã, controlada desde Agosto, pelos Talibãs, transmitiu as declarações de Enmullah Samangani, membro da Comissão Cultural do Emirado Islâmico sobre os funcionários públicos e as mulheres.
O responsável do Emirado Islâmico (como os Talibãs se auto-denominam), acrescentou que a “estrutura do governo ainda não está totalmente definida.
“Com base na experiência, (o governo) será composto por dirigentes islâmicos das várias ‘partes'”, afirmou Samangani.
Por outro lado, os Talibãs declararam que “uma amnistia geral foi declarada para todos (…) e que, por isso, todos devem regressar à normalidade, em confiança”.
Entretanto, uma fonte oficial que participou nas negociações do Qatar, citada pela France Presse, disse sob anonimato que o líder Talibã, Amir Khan Muttaqui já se encontra em Cabul.
Muttaqui, que se encontrava em Doha, no Qatar, foi ministro da Educação durante o governo que controlou o Afeganistão entre 1996 e 2001.
Muttaqui estabeleceu contactos com os líderes políticos afegãos antes de o ex-presidente Ghani ter partido para o exílio. Euronews/RM/LUSA/ZEBRA