COP30: Mulheres da África Austral concertam posições – Rafa Machava

Quando o mundo prepara-se para COP30, a realizar-se em Novembro, no Brasil, estudos da ONU Mulheres apontam que 158 milhões de mulheres e meninas no mundo, podem ser levadas à pobreza até 2050, em decorrência das mudanças climáticas, com 236 milhões submetidas à insegurança alimentar, sendo África, o continente mais afectado.

Estes dados incluem Moçambique, um dos países  que devido a limitações financeiras não conseguiu implementar efectivamente o acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

O Acordo é um tratado internacional que vincula juridicamente os seus signatários a agirem para combater as alterações climáticas. Em 2015, pela primeira vez na história, os governos acordaram conjuntamente em unir esforços para limitar o aquecimento global, abaixo dos 1,5 ºC e fazer face aos seus impactos.

Para a concertação de posições rumo a COP30, a Feminist COP, uma organização de Comunicação e Informação para as Mulheres da África Austral, que em Moçambique é representada pela MULEIDE – Mulher, Lei e Desenvolvimento, está reunida desde ontem em Maputo.

Em entrevista ao site Zebrando, a directora executiva da MULEIDE, Rafa Machava, defendeu que não há justiça climática sem justiça de gênero, havendo necessidade de incluir as demandas feministas na declaração final da Cúpula do Clima da África, que será levada a COP30, em Belém.

Raafa Machava, directora executiva da MULEIDE

“Falar de mudanças climáticas em Moçambique é falar de justiça social, porque mexe com a  segurança das mulheres, uma vez que sempre que há ciclones e secas, são elas as maiores vítimas”.

Segundo Rafa Machava, um dos episódios que fez com que Moçambique fosse um dos piores exemplos do mundo, foi o nascimento de uma criança em cima de uma árvore, a menina Rosita, no distrito de Chibuto, província de Gaza, no início do ano 2000. “Por isso, exigimos acções concretas, porque enquanto os líderes queimam horas e horas em negociações, milhões de africanas continuam a percorrer quilometros à busca de água e de lenha, tarefas que se tornam cada vez mais árduas diante da degradação ambiental.

A directora executiva da MULEIDE, lamenta o facto de até hoje existirem famílias em Moçambique, que vivem em tendas, snas cidades de Maputo e Beira, como consequência directa de mudanças climáticas,  sem um apoio substancial do Governo.

Nos países da África Subsaariana, em que Moçambique está inserido, dados do Programa Internacional de Mulheres pelo Meio Ambiente (WEP) mostram que a

exclusão energética aprofunda ainda mais o abismo. Cerca de 600 milhões de africanos ainda vivem sem eletricidade e o peso recai sobre as mulheres. “ Muitas cozinham com lenha ou carvão em fogões rudimentares dentro de casa, enfrentando fumaça tóxica que causa doenças respiratórias graves.

“Hoje fala-se de energias limpas, matéria que até pessoas com alguma escolaridade não tem domínio e, a pergunta é como é que aquela mãe que vive no interior de Gaza ou de Cabo Delgado vai lidar-se com o tema? Como é que elas vão entender que não devem cortar árvores para  lenha, porque é preciso preservar a biodiversidade?, como falar de energias limpas para uma comunidade que nunca teve acesso a energia?”, questiona, acrescentando que as medidas são boas, mas elas devem ser acompanhadas de alternativas de sobrevivência.

Rafa Machava, concorda que os países africanos poluem o ambiente, mas, a maior certeza é que quem polui mais são os países desenvolvidos. “A pergunta é: O que é que esses países nos trazem em troca? E se trazem, como é que essa troca se reflecte na vida das mulheres e das comunidades?

Os países de todo o mundo aprovaram ano passado, em Baku (COP29), um acordo que prevê um financiamento anual de pelo menos 300 mil milhões de dólares para os países em desenvolvimento.

A África responde por menos de 4% das emissões globais, mas sofre de forma desproporcional com secas prolongadas, escassez de água, degradação florestal e insegurança alimentar. Nessas crises, as mulheres, guardiãs dos recursos naturais e da vida comunitária, estão na linha de frente.

“Por isso, nós as mulheres afirmamos que vamos celebrar os 10 anos do acordo de París com lágrimas nos olhos, porque ainda há muito sofrimento por conta das mudanças climáticas”, concluiu.

O encontro da Feminist COP termina amanhã, com uma declaração de Maputo, sobre aquilo que são as preocupações das mulheres.