Mulheres africanas clamam pela paz no continente

Com o tema “O Poder e a Voz das Mulheres como Agentes de Mudança”, arrancou hoje, em Joanesburgo, África do Sul, a III edição do Diálogo Africano das Mulheres (AFWID), com apelos para paz e maior inclusão de mulheres nos espaços de tomada de decisões.

Trata-se de um espaço que reúne delegadas de base, ativistas, mulheres de negócios e funcionárias públicas, todas com o peso das suas experiências vividas e da sua sabedoria ancestral.  Participam neste encontro 1500 mulheres provenientes dos 54 países africanos, incluindo Moçambique.

A presidente e fundadora da AFWID, Zanele Mbeki, antiga primeira-dama da África Sul, convidou as mulheres africanas presentes na abertura do encontro e não só, a trabalharem para busca de soluções dos problemas que afligem o continente.

Numa mensagem dirigida às delegadas, Zanele  Mbeki disse que ainda há muito por fazer, tendo em conta que muitas mulheres em África continuam a enfrentar desafios prementes das desigualdades, da pobreza, das alterações climáticas, da violência e dos conflitos armados.

“Este diálogo representa uma oportunidade para moldarmos o futuro das mulheres em todo o continente e além. Estamos alinhados com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, particularmente com o Objectivo 5 relativo à Igualdade de Género, á medida que traçamos o caminho para um novo ecossistema baseado em valores”.

Zanele Mbeki acredita que as mulheres, que atualmente representam o rosto da pobreza no mundo, têm a chave para um paradigma diferente de abundância e prosperidade em que ninguém é deixado para trás. “As suas resiliências, criatividade e liderança revelam-se essenciais para impulsionar a transformação desejada”.

Explicou que a AFWID é impulsionada pela visão de unir mulheres africanas de todas as esferas da vida para dialogar e compartilhar ideias e enfrentar colectivamente os desafios que ainda permanecem. “Por isso, temos a intenção de dar espaço aos excluídos porque acreditamos no valor da sua participação como chave para a mudança”.

Segundo a antiga primeira Dama, a exclusão sistemática pelos sistemas capitalistas é uma das falhas de concepção do sistema que conduziu o povo à armadilha da pobreza. “A plataforma foi projectada para promover a inclusão, assegurando que mulheres de todas as origens, etnias, crenças políticas e estatutos socioeconómicos utilizem a sua voz e sabedoria para se enriquecerem mutuamente.

África precisa de políticas que quebram barreiras

Dra. Stellah Bosire

Por sua vez, Stellah Bosire, médica, advogada, pesquisadora, profissional de saúde global e diretora executiva fundadora do Centro Africano de Sistemas de Saúde e Justiça de Gênero no Quénia, apelou às lideranças africanas para apostarem em políticas que quebram barreiras que impedem o desenvolvimento da mulher.

Discursando na cerimônia de abertura da conferência, a médica apontou a desigualdade de género como a principal barreira que deixa as mulheres e as raparigas em maior risco de pobreza.

Explicou que o simples facto de ser mulher limita o seu acesso à educação e à formação formal, as suas oportunidades de entrar no mercado de trabalho e a sua capacidade de acesso ao capital, o que sufoca o empreendedorismo.

“É um golpe duplo: as mulheres têm menos oportunidades devido a normas de género de longa data que as impedem de explorar todo o seu potencial, ao mesmo tempo que lhes é negado o acesso às ferramentas que lhes permitam planear o seu futuro reprodutivo, alcançar os seus sonhos e fazer crescer a economia exponencialmente”, disse Stellah Bosire.

Segundo a ativista social, é um facto comprovado que quando as mulheres têm acesso e opções para a sua saúde, não é apenas melhor para ela e para a sua família, os benefícios vão além das próprias mulheres.

“Frustrantemente, ainda estamos a travar uma batalha difícil, a saúde reprodutiva e a saúde das mulheres em geral são muitas vezes a última prioridade em detrimento de outras áreas, como segurança, infraestrutura e educação”.

Para Stellah Bosire, a jornada de sobrevivência permanece inacabada enquanto mais meninas se tornarem meras estatísticas; “só completaremos essa jornada quando confrontarmos e abordarmos as razões por trás da marginalização dessas meninas”.

Por fim, convidou as mulheres mais crescidas e empoderadas a serem mais solidárias com as mais jovens, aquelas que ainda estão mergulhadas em desafios que vão desde a falta de educação, de saúde adequada, de justiça económica e política.