A Comunidade Islâmica diz estar aberta para apoiar as autoridades em aspectos logísticos, para esclarecer o crime de raptos e exige uma acção enérgica do Estado.
A Comunidade Islâmica questiona a actuação da brigada anti-rapto para o combate a crime de raptos que assola o país há 13 anos. “Ainda não vimos nenhum resultado desta brigada. Pelo menos uma coisa palpável”, lamenta Salimo Omar, que falava esta semana, em Maputo, em representação da comunidade islâmica.
Para esta comunidade, o mais grave é que nem se quer sabe quem faz parte da mesma brigada anti-rapto. “Não há nenhuma cara. Quando se nomeia directores do SERNIC, da Polícia, do Comando e outros há uma apresentação pública, mas na brigada anti-rapto, nada”, observou, adiantando que do trabalho que é feito, o que se vê são apenas pessoas suspeitas.
Segundo Salimo Omar, não existem provas, noventa e nove por cento das pessoas levadas ao tribunal, por razões que desconhecemos ou por processos mal elaborados, são absolvidas, o que é lamentável.
Por isso, a Comunidade Islâmica exige uma acção enérgica do Estado para combater os raptos. A agremiação diz que as vítimas não colaboram com a investigação porque não confiam na Polícia. “Estamos cansados. Estamos a chegar a um esgotamento a cada dia que passa. Se quiserem, vão aos aeroportos, todo o mundo está a ir embora.”
Segundo a comunidade, que é a maior vítima deste crime, tem de haver sentimento e, da parte do Estado, alguma reacção mais enérgica. Aquela que nós podemos sentir que, de facto, alguma coisa está a ser feita.
A comunidade condena e exige do Estado um esclarecimento, pois, é a única entidade com poderes legais para investigar e apurar responsabilidades através dos seus órgãos, nomeadamente a Polícia, PGR e tribunais.
Salimo Omar disse que a comunidade que representa não sente a acção do executivo, porque, desde o ano em que se registou o primeiro caso de rapto em Moçambique, ninguém foi detido e condenado.
“Na nossa cidade, nas nossas comunidades e nas nossas famílias, a angústia e tristeza são grandes que não vemos ninguém a sorrir. As nossas mesquitas estão vazias, porque as pessoas têm medo de ir. Isto está muito complicado”, lamentou.
Segundo Omar, após o pagamento de resgate e libertação do cativeiro, as vítimas dos raptos e os seus familiares não colaboram com a Polícia porque não confiam nos agentes da corporação.
“O mais complicado ainda é que quando os familiares das vítimas são chamados na Polícia ou Procuradoria, logo a seguir recebem chamadas telefónicas de pessoas desconhecidas a dizer que hoje a hora X vai ser intimado ou foi intimado. Cuidado. Vou lhe matar. Veja bem o que vai falar”, lamenta e, explica que as vítimas desconfiam da Polícia e dos homens do SERNIC.
Entretanto, a Comunidade Islâmica diz estar aberta para apoiar as autoridades, em aspectos logísticos, para esclarecer o crime dos raptos. “Sempre estivemos dispostos a ajudar o Estado em questões logísticas, dentro daquilo que é a nossa capacidade e dos limites da lei. Se os serviços de investigação precisam de apoio, que nos digam”, disse, salientando que esse eventual apoio tem de estar de acordo com a lei, para que a comunidade não corra o risco de estar envolvido em actos de corrupção e subornos.
Fonte/ZEBRANDO/STV