Numa altura em que Moçambique e todo o continente africano enfrentam desafios relacionados com as uniões prematuras, violência baseada no género e falta de oportunidade para mulheres e raparigas, a eliminação do Ministério da Mulher, Criança e Acção Social representa um grande retrocesso para o país.
No lugar do Ministério do Género, Criança e Acção Social, o Presidente da República, Daniel Chapo criou o Ministério do Trabalho, Género e Acção Social,
Falando à nossa equipa de reportagem em Joanesburgo, África do Sul, onde decorre a III edição do Diálogo Africano das Mulheres (AFWID), a presidente do Fórum Mulher, Rafa Machava disse que a organização que dirige está a preparar-se para pedir um encontro com o PR Daniel Chapo, com o objectivo de entender as motivações que o levaram a eliminar aquele Ministério.
“Entendemos que, provavelmente tenha havido muita pressão sobre o PR e, por essa razão ter tomado essa decisão sem olhar de forma profunda para as questões de género e, nós classificamos essa decisão como erro grave”, disse.
Rafa Machava, explicou que as mulheres integrantes do Forum Mulher, uma organização representada em todo o país, querem sentar com o Presidente da República, Daniel Chapo para entenderem as suas motivações, mas esperam também deixarem as suas preocupações a volta do assunto.
Segundo Rafa Machava, a criação daquele Ministério resultou de exigências das mulheres que duraram muitos anos. “Por isso, era uma instituição que representava grande conquista para os moçambicanos, em especial para as mulheres”.
Rafa Macha, também manifestou insatisfação do Fórum Mulher pela redução drástica do número de mulheres tanto na Assembleia da República, como a nível do Governo central, onde num total de 19 membros do governo, mais a Primeira-ministra, apenas seis são mulheres. Importa referir que ainda falta por nomear o Ministro da Justiça e assuntos constitucionais.
Já no parlamento, os dados mostram também um decréscimo em relação a percentagem das mulheres na actual legislatura (2025- 2029) que é de cerca de 39, 2% contra 44% da legislatura de 2019-2024.
“Esta redução preocupa-nos bastante porque Moçambique já estava prestes a alcançar o equilíbrio de género. Esta situação leva-nos a crer que precisamos de legislar a questão de paridade de género, para não dependermos da vontade de cada Presidente da República”, disse a presidente do Fórum Mulher.
Mulheres querem abolição de vistos no continente

Falando dos trabalhos da III edição do Diálogo Africano das Mulheres (AFWID), que iniciaram na segunda-feira e terminam esta sexta-feira, Rafa Machava congratulou os esforços que estão sendo feitos pela plataforma do Diálogo Africano das Mulheres, que através dos fóruns anuais, consegue unir mulheres de toda África para troca de experiência e juntas encontrarem soluções para os seus problemas comuns.
“Precisamos desta união porque os problemas são iguais. Em todos os nossos países as mulheres continuam a sofrer com guerras e desigualdades sociais”.
As participantes dos 54 países, avançaram a necessidade de cada delegação procurar trabalhar com o seu governo para estudar a possibilidade de eliminação dos vistos ao nível dos países do continente africano. Elas acreditam que isso pode facilitar a circulação, principalmente das mulheres que na sua maioria sobrevivem de negócios.
Para terminar, a presidente do Fórum Mulher congratulou mais uma vez a realização deste tipo de encontros que empoderam mulheres, sobretudo jovens, aquelas que vão continuar com o trabalho iniciado pelas mais velhas. “Por isso, precisamos de levar este calor e esta experiência para Moçambique”.
A III edição do Diálogo Africano das Mulheres (AFWID), reúne 1500 mulheres de 54 países do continente africano. É objectivo desta plataforma, promover a inclusão, assegurando que mulheres de todas as origens, etnias, crenças políticas e estatutos socioeconómicos utilizem a sua voz e sabedoria para se enriquecerem mutuamente.