Estudantes moçambicanas na Ucrânia chegam a casa depois de viverem na pele a discriminação racial

E o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, pediu às autoridades das fronteiras ucranianas para darem “oportunidades iguais” aos africanos que tentam sair da Ucrânia, ao mesmo tempo que o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia anunciou no Twitter que tinha criado uma hotline para os estudantes africanos, asiáticos e outros que estejam a tentar sair da Ucrânia através do número +380934185684.

Quatro estudantes moçambicanos que estudavam na Ucrânia, finalmente chegaram a casa semana passada (17 de Março), após percorrer a pé vários quilómetros até a fronteira com a Polónia. O desafio agora é conseguirem voltar a retomar os seus estudos superiores no país ou em outro país.

Na hora do reencontro com os seus familiares e amigos, Regina Shaide agradeceu em primeiro lugar “a protecção divina” que a fez escapar da guerra, ao Governo, aos pais pela oração e as igrejas.

Enquanto isso, Keyla Chichava reconheceu que ela e as colegas viram o sonho de se formar na Ucrânia interrompido e apenas querem continuar os estudos. “Como sabem os nossos estudos foram interrompidos devido a guerra na Ucrânia e pede ajuda ao governo moçambicano para darem continuidade a formação.

Perante a crise humanitária que tem estado a dificultar as comunicações entre quem está no epicentro da guerra e o resto do mundo, o contacto entre as estudantes e o Governo moçambicano só foi possível através de Keyla Amado, também estudante na Ucrânia, mas que estava de férias em Maputo na altura em que a guerra iniciou. “Foi um processo complicado visto que os estudantes na Ucrânia estavam dispersos em diversas províncias”, disse Keyla.

O regresso ao país foi coordenado pelo Instituto para as Comunidades Moçambicanas no Exterior e, segundo Armando Júnior, 11 estudantes ainda se encontram na Polónia, França e Finlândia em segurança. “Houve uma grande movimentação dos pais e os próprios estudantes e o Governo que esteve envolvido desde o primeiro minuto a acompanhar onde é que os estudantes estavam e em que condições”, explicou.

Africanos alvos de racismo

Muitos africanos, incluindo estudantes que tentavam passar a fronteira para a Polónia fugindo devido a guerra na Ucrânia, queixam-se de racismo: Os soldados só deixavam passar pessoas brancas, dizem. Estiveram dias à espera até que diplomacia dos respectivos países e ucraniana desbloquearam a situação. “Sermos tratados desta forma trouxe muita revolta e tristeza”, afirma os africanos.

“Os africanos vão para o fim da fila”: foi isto que muitos africanos ouviram, depois de horas de viagem e quilómetros a andar a pé com malas às costas, depois de horas sem se sentarem, depois de verem todas as pessoas brancas a passar a fronteira e todas as pessoas negras, de origem indiana ou do Médio Oriente, a ficarem para trás.

A Ucrânia tem uma grande comunidade de estudantes estrangeiros. O Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari também já alertou para os casos de discriminação. Há cerca de 4 mil nigerianos na Ucrânia, a maioria estudantes e, muitos estão a ser impedidos de sair do país.

ZEBRA/VOA

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