Apesar de aprovado nos Estados Unidos, Europa e Canadá (como tratamento, não como prevenção ao HIV-1), o lenacapavir ainda não tem registo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Quando os resultados dos testes do “Lenacapavir” foram apresentados na Conferência Mundial sobre HIV/SIDA, em julho de 2024, a comunidade científica ficou entusiasmada.
Este novo medicamento pode realmente ser o “divisor de águas” tão aguardado, trazendo um avanço decisivo no combate à doença.
“Estou completamente encantada. Quando esses dados foram apresentados, o ambiente na sala era eletrizante, algo que raramente experimentei. Foi simplesmente magnífico”, afirma a professora Clara Lehmann, diretora do Centro de Proteção contra Infeções do Hospital Universitário de Colónia, na Alemanha.
O que torna “Lenacapavir” especial?
Este medicamento antirretroviral alegadamente possui quase 100% de eficácia tanto na prevenção quanto no tratamento de infeções por HIV. Além disso, precisa de ser administrado apenas duas vezes ao ano, simplificando significativamente o regime de aplicação.
Outras profilaxias, como o Cabotegravir (CAB), requerem injeções mensais ou bimensais. Outros, como o Truvada, precisam de ser tomados diariamente em forma de comprimido.
Quando estará disponível no mercado?
Este medicamento, produzido pela empresa farmacêutica norte-americana Gilead, já foi aprovado na União Europeia para o tratamento de pacientes com HIV. Contudo, ainda não está disponível para compra, pois a empresa aguarda a autorização para o seu uso como Profilaxia. Essa aprovação, no entanto, é esperada em breve.
Mesmo assim, não está claro se o “Lenacapavir” marcará realmente o ponto de viragem no combate ao vírus HIV. Para isso, seria necessário um uso amplo e acessível.
Quanto irá custar?
Atualmente, o Lenacapavir é extremamente caro: a farmacêutica Gilead cobra mais de 40 mil dólares por pessoa, por ano, para o tratamento. Em comparação, outras profilaxias contra o HIV custam, em média, entre 600 a 700 euros anuais.
A Gilead justifica o preço elevado com os custos de desenvolvimento ao longo dos anos. Contudo, especialistas e ativistas contra a SIDA não aceitam essa justificativa. Astrid Berner-Rodoreda, pesquisadora do Instituto de Saúde Global de Heidelberg, na Alemanha, afirma, que para os países mais pobres será difícil suportar o enorme preço do medicamento.
“A questão é: como os países de baixa e média renda terão acesso a esses valores? Para a África Subsaariana, por exemplo, esse medicamento seria muito necessário, mas 42 mil dólares por pessoa ao ano é inviável”, sublinha.
A Gilead está a negociar com fabricantes de genéricos para produzirem o medicamento a preços mais baixos em países mais pobres. Mas não será fácil encontrar uma solução viável.
A taxa de eficácia é a mesma apresentada de forma preliminar em junho pela gigante farmacêutica norte-americana, quando foram divulgados os primeiros resultados do estudo de Fase 3, situação em que são testados os medicamentos em grandes grupos.
Segundo a publicação, que trouxe dados desse acompanhamento de mais de 2 mil mulheres cisgênero na Uganda e na África do Sul, o medicamento injetável aplicado somente duas vezes por ano se provou tão eficaz que o estudo clínico chegou a ser interrompido precocemente, já que os números superaram os critérios de interrupção pré-definidos.
Por causa disso, o Unaids, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, também emitiu um comunicado recente afirmando que o medicamento oferece uma esperança de acelerar os esforços para acabar com a HIV e SIDA como ameaça à saúde pública até 2030 – meta que faz parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Garantir novas tecnologias pode ajudar acabar com HIV/SIDA
“Garantir o acesso global equitativo a novas tecnologias pode ajudar o mundo a se colocar no caminho para acabar com a HIV/SIDA como uma ameaça à saúde pública até 2030”, afirmou Winnie Byanyima, Diretora Executiva do Unaids.
Apesar de aprovado nos Estados Unidos, Europa e Canadá (como tratamento, não como prevenção ao HIV-1), o lenacapavir ainda não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
No dia 23 de Novembro deste ano, uma coalizão de ativistas, incluindo a Médicos Sem Fronteiras (MSF), também exigiu uma ação global imediata para quebrar o monopólio da Gilead sobre o lenacapavir. Manifestantes também protestaram no estande da farmacêutica em Munique.
A movimentação aconteceu após novos dados apresentados na 25ª Conferência Internacional sobre HIV/SIDA revelarem que o lenacapavir genérico pode ser fabricado a um custo mil vezes menor do que os 42.250 dólares anuais, cobrados pela Gilead.
Em uma nota divulgada também em Novembro, a Gilead disse que está comprometida com a inovação científica contínua para fornecer soluções para as necessidades crescentes das pessoas afetadas pelo HIV em todo o mundo e que pretende melhorar a educação, expandir o acesso e eliminar barreiras aos cuidados por meio de parcerias, colaborações e doações, com o objetivo de acabar com a epidemia de HIV globalmente.
Tratamento ainda é inacessível
Das 39,9 milhões de pessoas vivendo com HIV em todo o mundo, quase um quarto (9,3 milhões), não estão recebendo o tratamento adequado. Como consequência, uma pessoa morre por minuto por causas relacionadas à Aids. Os dados estão em um relatório divulgado nesta segunda-feira (22) pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/ASIDA (Unaids), antes da abertura oficial da 25ª Conferência Internacional sobre SIDA.
G1/ZEBRANDO