Dia Internacional da Juventude: Jovens moçambicanos querem maior acesso às oportunidades

Hoje, 12 de Agosto é Dia Internacional da Juventude. Em Moçambique milhares de jovens enfrentam inúmeros desafios, com destaque para a falta do emprego, de habitação e muitos ainda sem acesso às oportunidades.

Régio Conrado, jurista, filósofo e cientista político, entende que o primeiro grande desafio na República de Moçambique em relação a juventude, não é necessariamente porque ela não está consciente das suas responsabilidades para com o país. Se for a fazer estudos sociológicos aprofundados, vai descobrir que quando se conversa com qualquer jovem, ele está consciente dos graves problemas em que o país está mergulhado.

Em entrevista a Revista ÁGORA, explicou que o Banco Mundial mostrou nos seus diversos relatórios que uma das camadas mais sacrificada em termos de desigualdade, no contexto de Moçambique, é a juventude, com toda a ausência de clareza sobre o projecto nacional, ausência de um tipo de Estado social e interventivo capaz de criar condições para que os jovens possam se emancipar económica, política, social e culturalmente.

“A grande parte dos jovens hoje têm dificuldade até para ter uma esposa, porque não se pode construir família em situação de precariedade ou de miséria, porque senão cria outros problemas sociais associados”, disse, salientando que o acesso às oportunidades para os jovens também está muito aquém do mínimo necessário.

O jovem académico, aponta ainda a falta de referências como um dos cancros na construção da personalidade dos jovens em Moçambique, “Infelizmente, é muito difícil, raro, raríssimo, mesmo no campo académico, encontrar referências. São muito poucas, porque dedicar-se a academia não é tão evidente quanto pode parecer, é uma grande responsabilidade e as vezes implica determinados sacrifícios como indivíduo. É muito trabalho, é muita dedicação e isto também não se compadece com o modelo social de vida que os jovens parecem, hoje, estar a seguir”, disse.

O académico, explica que o jovem quer beber de sexta-feira a domingo e isso, significa que não têm tempo para ler, para estudar, para aprofundar, para passear, para ir às exposições, aos lançamentos de livros, às conferências, etc, etc. Ao nível da sociedade civil, é também profundamente difícil encontrar referencias.

“Na cultura temos um pouco mais, porque aqui encontramos jovens muito mais dedicados porque eles acreditam na cultura, mesmo sem se ganhar recursos financeiros. No jornalismo também temos alguns porque é uma profissão mal paga, mas ainda temos jovens que se dedicam à essa profissão. Então, os jovens que estão nessas áreas, é porque acreditam na ideia de que com o seu jornalismo podem, de facto, desenvolver as suas capacidades, contribuir para a famosa justiça social, melhor esclarecimento da opinião pública e contribuir para uma sociedade mais aberta, mais democrática e mais justa”.

Segundo Conrado, já não se pode dizer o mesmo em relação aos jovens que estão na sociedade civil, por causa do modelo de sociedade civil, que é baseado numa relação de empregador e empregado, de poucas convicções, de acumulação de diferentes capitais, salvo raros casos, as convicções não estão muito presentes. “A falta de referências neste país é um dos cancros graves na construção da personalidade dos jovens”, desabafou.

Melhorar a vida dos jovens para não aderir ao terrorismo

Edson Cortês, director-executivo e pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP), entende que o governo deve melhorar as condições de vida de milhares de jovens que vivem sem nenhuma perspectiva.

“O meu assunto, como jovem, é como vou ter habitação e emprego que me permitem constituir família, ou condições que me possibilitem chamar uma ambulância quando um membro da minha família ou eu mesmo estiver em situação de perigo de vida, porque em Moçambique, cada vez que vemos uma ambulância é de uma clínica privada”.

Cortês diz ainda que alguns podem tentar tapar o sol com a peneira e dizer que as suas afirmações não reflectem a verdade, mas reitera que aqueles que fazem o terrorismo são moçambicanos e, se esses tivessem tido boas condições de vida, oportunidade de ir à escola e de ter um emprego não se deixavam manipular. “

Um jovem formado, com emprego, dificilmente pode aceitar aderir ao terrorismo porque ainda tem uma nesga de esperança de ver a sua vida melhorada, mas as pessoas que não tem essa chance, que é a maioria dos jovens moçambicanos, podem facilmente alinhar com o terrorismo”, defende, para depois explicar que o país tem condições estruturais que permitem que pessoas que queiram desestabilizar venham e ofereçam algum dinheiro e as pessoas entram às cegas neste mundo tenebroso.

Para Cortês, esse é o problema do governo do dia que não dá esperança a milhões de moçambicanos e isso, torna-se um campo fértil para que aqueles que se sentem marginalizados pelo Estado, achem no terrorismo uma forma de abraçar uma causa para ganhar algo que este Estado não proporciona: poder e dinheiro.

Conselho Nacional da Juventude celebra o dia

Segundo a Presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Emília Chambalo,  no âmbito das celebrações do Dia Internacional da Juventude, que hoje se assinala, o emprego e habitação são as principais preocupações deste grupo social.

As comemorações desta data estão a acontecer na cidade da Beira, província de Sofala, e contam com a presença dos dirigentes locais e membros do CNJ, entre outros intervenientes.

As comemorações foram antecedidas por feiras de saúde e educação e debates nos diferentes órgãos de comunicação social sobre matérias ligadas a jovens, entre outras acções.

Explicou que este programa acontece em preparação do V encontro do órgão, agendado para os dias 15 e 17 de Agosto, no distrito de Vanduzi, província de Manica, no qual estarão presentes 1500 jovens e diversos convidados nacionais e internacionais.

Durante o encontro, que vai decorrer durante três dias serão debatidos diversos temas dentre os quais o acesso à educação para os jovens, emprego, habitação e a participação da juventude nos órgãos de tomada de decisão.

Emília Chambalo disse também que haverá um painel constituído por representantes de partidos políticos com assento no Parlamento, para debater sobre a participação activa dos jovens na esfera política, tendo em consideração o período da campanha eleitoral e votação que se aproximam.

“Será um momento de festa, mas também de reflexão, onde vamos pensar o presente e o futuro da juventude. Iremos ver se o Governo conseguiu cumprir com as promessas feitas aos jovens. Agosto é mês da juventude, vamos realizar várias actividades”, disse, acrescentando que na referida reunião será apreciada a declaração da Matola para se avaliar quais são os pontos realizados e outras acções que podem ser desenvolvidas.