Académicos e estudiosos são desafiados a reescrever a história de Moçambique

O académico e antigo deputado da Assembleia da República, pelo círculo eleitoral da Europa e o Resto do Mundo, Rui Sixpence Conzane, desafia a classe académica, estudiosos e personalidades diversas de reconhecido mérito para uma reflexão profunda, sobre a necessidade de se reescrever a história de Moçambique, quer para imortalizar os heróis já conhecidos pela sociedade, quer, também, para responder aos acesos debates sobre quem deve, de facto ser tido como herói, num contexto de uma dinâmica social e de liberdade de pensamento e diversidade de opinião.

Segundo Conzane, residente na Alemanha, que falava semana passada, durante o lançamento da quarta edição da ÁGORA, isto impõe-se, porque o país está num estágio nunca antes experimentado, de construção de uma sociedade em que o nacionalismo deve ser a bússola dominante para a contínua unidade da nossa nação. “A nossa história deve ser reescrita para perpetuar a memória de todos quantos devemos legar como ídolos deste nacionalismo para a nossa juventude. E isto requer que nos despojemos de qualquer animosidade, identidade e fanatismo político-partidário, para acolhermos diversas ideias de potenciais heróis que a nossa nação moçambicana tem gerado ao longo da sua história.

qFalando na qualidade de coordenador da revista, defendeu que não é tempo de nos contentarmos apenas com as narrativas da heroicidade de Ngungunhana, Maguiguana, Zixaxa, Mataka, Machemba, Makanjila ou tantos outros de que a nossa história, infelizmente, pouco faz para imortalizar. “Do mesmo modo, não nos devemos sentir por completos nas narrativas dos grandes heróis da Luta de Libertação Nacional, os quais, mesmo com diversa literatura sobre os seus actos heróicos, estão caindo no esquecimento e pouco servem de fontes de inspiração e como ídolos para a nossa juventude da actualidade”.

E porquê? Esta é uma questão que o coordenador deixa para reflexão. “Mas, para justificar o meu posicionamento, permitam-me ousar dizer que temos estado a falhar nas nossas estratégias e metodologias de manter vivos os nossos heróis e assim oferecer aos nossos jovens ídolos e referências que possam ser acolhidos conscientemente. Temos estado a falhar nas nossas políticas de ensino e preservação cultural, num contexto em que temos de tudo para mantermos viva a chama, a vida e exemplo dos nossos heróis de gerações muito próximas da actual”.

Segundo o ccordenador, o remédio, quiçá, seria um desafio aos académicos a buscarem inspiração nos exemplos de como diversas tradições mundiais conseguem manter vivos os seus heróis e ídolos por séculos e milénios, de modo a impô-los em diversas gerações, incluindo a de jovens de hoje, sem que sejam questionados.

“O desafio é compreendermos a fórmula como, por exemplo, grandes personalidades da espiritualidade ocidental e oriental continuam influenciando as sociedades actuais, e os libertadores da pátria facilmente caem no esquecimento. É, também, deixarmos as nossas mentes e a nossa história nacional aberta ao surgimento e aceitação de novos heróis, reformulando o nosso conceito de modo a sermos mais receptivos, tolerantes e inclusivos”.

Finalmente, o desafio, segundo Conzane, é contrariar a tendência contínua de idolatrizar falsos heróis como aqueles que a indústria cinematográfica e as redes sociais oferecem e que facilmente, como aconteceu há poucas semanas, propagam para o consumo público actos de barbárie quanto o linchamento de um polícia devidamente fardado, como se de acto normal se tratasse. E as imagens dos actores destes actos circulam impunemente, como se fossem promovidos a ídolos para a nossa juventude.

“Acredito não ser este o legado de ídolos que gostaríamos de deixar para os nossos filhos! Estas são apenas algumas reflexões inacabadas que espero nos ajudem a um objectivo maior”.