É preciso remover obstáculos que impedem o desenvolvimento da mulher 

Graça Machel, presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), defende que ainda existe no país obstáculos estruturais, de sistemas, de mentalidade e até relacionadas com as “nossas normas e tradições”, que impedem o desenvolvimento da mulher.

A presidente da FDC que falava ontem em Maputo, no decurso da segunda edição da conferência mulheres na economia, disse que é preciso transformar a maneira de ser e de estar de homens e mulheres para que possam estar no mesmo espaço e, garantir relação igualitária e de respeito mútuo que levem a todos a um espaço de igualdade e justiça social.

Segundo Graça Machel, o que acontece é que não estamos a trabalha o suficiente, primeiro com os homens e segundo com as estruturas que são dominadas pelos homens. “É lamentável dizer que são as sogras e as cunhadas que oprimem as outras mulheres, muitas das vezes porque querem proteger o seu filho ou o homem do lado delas, mas logo a seguir a filha desta senhora também pode estar na mesma situação e aí chora”, disse, a activista social, para quem estas mulheres não conseguem ver que é preciso quebrar todas as normas e tradições que oprimem a mulher.

Segundo a activista social, é preciso combater quem combate às mulheres e isso deve começar das organizações que lidam com estes temas. “Eu quero dizer que, no nosso trabalho, nós devemos também colocar seriamente o desmantelamento das instituições que oprimem mulheres e também trabalhar as mentes dos homens para aceitarem andar lado a lado num espaço igual com as mulheres.”

Sobre a transformação de mentes, Graça Machel citou um caso em que um determinado homem tinha várias mulheres e nenhuma tinha direitos respeitados, sendo ele instruído, com nível de licenciatura, por isso esclareceu que a mentalidade não muda apenas porque uma pessoa tem instrução de nível superior.

Para a activista social, a mudança de mentalidade é uma luta de longo prazo, mas a questão do patriarcado tem que estar sempre associada. Nós fazemos acções transformativas da vida das mulheres, porque é daí onde vem a evidência de que as mulheres não só têm a mesma dignidade humana, têm as mesmas capacidades de realização e têm as mesmas capacidades transformativas até”, disse, salientando que, mas para isso, há barreiras que precisam de ser removidas.

Milagre Nuvunga, engenheira ambiental foi a oradora principal deste evento, que decorreu sob lema “Forjando caminhos e alternativas para autonomia e resiliência económica das mulheres”. Na ocasião, ela apelou para que se faça valer todas as conquista até aqui conseguidas pelas mulheres.

Contudo, ela não tem dúvidas que o empoderamento da mulher está a correr em todo o país. “Mas quando há investimentos nunca abrangem a todos por igual. Por isso, é importante que o governo e os agentes económicos garantam que os investimentos sejam realmente inclusivos”, disse.

A engenheira considera que a primeira acção, acima de todas, deve ser do Governo, na aplicação das tantas leis existentes, planos quinquenais ou até mesmo protocolos de que o país é signatário. “Moçambique tem muitas e belas leis. Então, fica aqui o meu apelo. Façamos valer esta conquista, que é nossa. Passemos do desenho à implementação. As leis existem. Se elas fossem cumpridas, não estaríamos onde estamos. As mulheres não estariam onde estão.”