Manuel de Araújo, reileito Presidente do Municipio de Quelimane, na Província da Zambézia, manifestou a sua satisfação pela victória da Renamo naquela edilidade, proclamada ontem, em Mputo, pelo Conselho Constitucional(CC), mas também mostrou-se frustrado por considerar que a justiça eleitoral ainda é um sonho em Moçambique.
“Estou com o sentimento de frustração porque em Moçambique o voto popular não é suficiente para ganhar as eleições e governar, pois, para governar é uma outra ciência. Isso frustra, não tínhamos que passar por tudo isto”, lamenta o político.
Araújo acrescentou que para ganhar as eleições e governar no país, tem que vencer em primeiro lugar a Policia da República de Moçambique (PRM); a Unidade de Intervenção Rápida; o Tribunal Distrital; a Procuradoria distrital; a Procuradoria Provincial; o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) distrital, provincial e nacional; a Comissão distrital de Eleições, Provincial e Nacional (CNE) e por último, vencer o Conselho Constitucional. “Não pode ser assim, alguma coisa está errada, é muito trabalho e muito sacrificio”, desabafa Araújo, que falava á imprensa em Maputo.
Contudo, o edil de Quelimane disse sentir-se feliz porque finalmente a verdade material e eleitoral foi reposta. “Houve um respeito daquilo que é preceito constitucional, porque a soberania reside no povo e o povo foi ouvido em Quelimane”.
Manuel de Araújo agradeceu aos municipes da cidade de Quelimane, pelo apoio que deram, através das marchas de reivindicação durtante 44 dias, mesmo fazendo sol, frio ou chuva. “Mas, ao mesmo tempo estou com um sentimento de tristeza, porque a verdade eleitoral não foi feita em todo o país”, disse, acreditando que no mínimo a Renamo ganhou em 21 municipios.
Quelimane tem 46 mandatos, dos quais a Renamo arrecadou 23, a Frelimo 22 e o MDM 01 mandanto, situação que não assusta o edil reileito, que promete trabalhar em paz com todos. “É sabido por todos que o cabeça de lista da Frelimo é meu primo, que vai ser chefe de bancada ou vice-presidente da Assembleia ou Secretário da assembleia, mas acredito que vamos trabalhar bem, pois, Quelimane tem uma características interessante que é união”, disse, alertando que caso haja tentativas de prejudicar a sua governação, vai dar algumas aulas, tendo em conta a sua longa experiência nesta matéria.
O Conselho Constitucional, proclamou a Frelimo vencedora das eleições em 56 municípios, contra os anteriores 64, validados pela Comissão Nacional de Eleições, mantendo-se o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) vencedora na Beira, capital da província de Sofala.
O acórdão do Conselho Constitucional representa a decisão final do processo eleitoral autárquico. Nestas eleições autárquicas foram inscritas 4.817.702 eleitores e foram constituídas 1.486 assembleias de voto, com 6.875 mesas de votação.
Biografia
Manuel de Araújo nasceu a 11 de outubro de 1970 na capital da província da Zambézia, Quelimane. cursou o ensino primário e secundário em sua cidade natal. Em seguida, mudou-se para Maputo onde estudou relações internacionais no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI; actual Universidade Joaquim Chissano). Posteriormente iniciou seu mestrado profissional na Universidade do Zimbábue, concluindo a pós-graduação na Universidade de Fort Hare e mestrado académico em economia na Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres. Araújo completou seu doutorado em economia na Universidade da Ânglia Oriental.
Paralelamente após a sua carreira académica, leccionou em várias escolas secundárias e universidades de moçambicanas, incluindo a Escola Secundária 25 de Setembro, a Escola Secundária Francisco Manyanga, em sua alma mater Universidade Joaquim Chissano, no Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM), na Universidade Maputo (UP) e na Universidade Politécnica.
Carreira política
Araújo juntou-se ao partido de oposição RENAMO, que dominava a Zambézia, ainda em sua juventude. Nas eleições legislativas de 2004, concorreu a um mandato legislativo e foi eleito para a Assembleia da República de Moçambique contra 89 outros candidatos. Ele ocupou o mandato entre 2004 e 2009.
No decurso da crescente bipolarização do panorama político em Moçambique e das estruturas da RENAMO, por vezes tidas como autoritárias, vários membros do partido desentenderam-se com a liderança e fundaram o seu próprio partido, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Manuel de Araújo também mudou da RENAMO para o MDM.
Em 2011, uma eleição suplementar local ocorreu, incluindo a cidade natal de Araújo, Quelimane. Araújo concorreu para presidente do Conselho Municipal e conseguiu deixar o candidato da FRELIMO para trás com 62,27% contra 37,72%.
Nas eleições locais de 2013, a comissão eleitoral publicou inicialmente resultados que mostravam uma vitória da FRELIMO. Só depois de várias denúncias de fraude eleitoral estas foram corrigidas e Manuel de Araújo oficialmente foi confirmado como reeleito, a mesma ginástica aconteceu nestas últimas eleições autárquicas de 2023, em que Araújo precisou de protestar dentro e fora do país para ser considerado vencedor.