A Associação Médica de Moçambique anunciou ontem, aos órgãos de Comunicação Social, a intenção de paralisar as suas actividades nos próximos dias, alegando a falta de cumprimento do acordo feito com o Governo, aquando da última greve e a falta de abertura por parte do Executivo para o diálogo, com vista a buscar soluções para os problemas que afectam a classe.
“Por isso, chegamos a conclusão de que a greve é o único caminho que sobra para esta tentativa de solução dos problemas que estão na mesa”, disse o Presidente da Associação Médica de Moçambique (AMM), Napoleão Viola, que acrescentou que dos 23 pontos que estão na mesa de negociação desde agosto de 2023, o Governo resolveu apenas seis.
Explicou que a direcção da Associação médica convocou uma reunião nacional que decorreu na sexta-feira última, na qual foi decidido por unanimidade que a greve é o único caminho que sobra. “Neste momento, a classe está a trabalhar na definição da data do início da paralisação das actividades; os moldes e todos os aspectos técnicos de como é que isso vai decorrer”, indicou Viola.
Segundo a classe médica, o acordo feito com o Governo referia-se entre outros aspectos, à questões remuneratórias e a melhoria das condições de trabalho, mas, infelizmente não foram registados avanços.
“A paralisação de actividades têm sempre vítimas, quer do lado dos médicos, do Governo e dos pacientes que todos os dias acorrem às unidades sanitárias a procura de resolver os seus problemas”, disse Viola, indicando que o diálogo seria o melhor caminho.
Explicou que a classe vai paralisar a actividade como último recurso. “Infelizmente, depois de tanto suportar situações muito complexas, desde a falta de equipamento de protecção e de material para tratar os doentes, chegamos a uma situação completamente exausto, em que não podemos continuar mais”, salientou.
Viola revelou que os médicos estão neste momento com problemas ao nível de equipamento de protecção individual e material de trabalho, indicando como exemplo, que quando vão fazer uma cirurgia ao intestino, esta cirurgia aparentemente corre bem, mas no dia seguinte os fios desfazem-se internamente porque não são adequados para o efeito.
“Infelizmente, estamos a viver estas situações nas nossas unidades sanitárias. Chegamos a tratar os nossos pacientes com algálias não adequadas em termos do tamanho, porque as vezes o paciente precisa de uma algália menor e nós temos um tamanho excessivamente grande ou vice-versa, o que pode causar lesões”, disse, acrescentando que são os problemas que a classe vive nos centros de saúde.
Algália é uma sonda ôca, usada para extracção de urina e para outras aplicações.
Os órgãos de comunicação social tem estado a noticiar a falta de medicamentos nos hospitais, incluindo gesso para tratar pacientes lesionados por várias razões.
Os doentes são recomendados pelos médicos a adquirir o gesso nas farmácias privadas.
O Presidente da Associação médica explicou que do caderno reivindicativo foram atendidos apenas os aspectos básicos, tais como atraso no pagamento de subsídio dos médicos. “mais de 11 meses já passaram, desde a assinatura de acordos com o Governo, mas, até então, apenas 25% do que estava acordado foi cumprido, no que diz respeito aos subsídios”, lamentou Viola.
Em relação a questões salariais, os médicos residentes do Hospital Central de Maputo (HCM), não tem estado a receber suas remunerações por horas extraordinárias há mais de 12 meses e, isso levou a uma paralisação de atividades extraordinárias. “Esta situação reduz a nossa capacidade de resposta aos nossos pacientes. A paralisação já vem decorrendo desde 01 de Maio, mas o Governo, até hoje não se dignou a dialogar e muito menos a resolver ou a dar uma proposta de solução em relação a esta questão”.
O Sistema Nacional de Saúde moçambicano enfrentou, nos últimos dois anos, diversos momentos de pressão, provocados por greves de funcionários. Segundo dados do Ministério da Saúde, consultados pela Lusa, Moçambique tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais.