O filho do Presidente usava a influência paterna para marcar pontos com políticos brasileiros, numa reunião que organizou sem o conhecimento do pai.
O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, teria cortado relações com o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, devido a um caso polémico envolvendo um tratamento milionário a gémeas luso-brasileiras no Hospital de Santa Maria.
O caso veio à tona por intermédio do jornal Público e foi intensamente reportado pelo Correio Braziliense.
Marcelo, visivelmente abalado pelo comportamento do filho que vive no Brasil, expressou indignação e distanciamento: “Isto é imperdoável, ele sabe que eu tenho um cargo público e político, e pago por isso. Há coisas piores na vida. Não sei se ele vai ser responsabilizado, não me interessa”, disse o presidente a jornalistas estrangeiros. A contenda familiar teria levado Marcelo a passar o último Natal isoladamente, longe dos netos.
O afastamento começou a ganhar forma quando Marcelo descobriu que Nuno tentava usar a influência paterna para marcar pontos com políticos brasileiros, numa reunião que Nuno organizou sem o conhecimento do pai. Marcelo, ao descobrir, optou por cortar relações, antevendo conflitos de interesse. “Isso veio poucos meses antes das gémeas, o que mostrou o acerto da minha decisão de romper com o Nuno”, revelou o presidente.
Em causa está o caso das gémeas brasileiras com nacionalidade portuguesa que receberam tratamento em Portugal através do Serviço Nacional de Saúde (SNS). As meninas receberam o medicamento Zolgensma em 2020, o que acarretou um custo de quatro milhões de euros.
O Ministério Público investiga um favorecimento para que conseguissem ter acesso ao tratamento, mesmo após o parecer negativo dos médicos. Marcelo admitiu ter sido contactado pelo filho – que tinha uma relação próxima com a família das meninas – sobre o caso, e a correspondência trocada entre este último, o Governo e o hospital foi enviada para o MP.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) já determinou que as crianças tiveram acesso irregular ao tratamento.
O episódio, ocorrido inicialmente em 2019, ganhou contornos públicos em novembro de 2023, exacerbando um período já conturbado para a política portuguesa, com a demissão do então primeiro-ministro António Costa. Marcelo descreve esse período como “chato”, revelando que ele e Costa encontravam consolo mútuo nas adversidades enfrentadas.
Este drama familiar e político representa não apenas uma crise pessoal para o presidente, mas também um potencial risco para a sua imagem pública e integridade política, levantando questões sobre os limites entre as relações pessoais e o dever público no mais alto escalão do governo português.
A investigação ao caso das gémeas luso-brasileiras foi considerada “um período chato” que “vai continuar a ser chato enquanto for preciso”, uma vez que parece estar longe de acabar. Sobre o filho, Marcelo considerou ainda: “Ele tem 51 anos, se fosse o meu neto mais velho e preferido, com 20 anos, eu ia me sentir corresponsável. Mas ele tem 51 anos e é maior e vacinado”.