Venâncio Mondlane diz que está aberto ao diálogo, mas não almeja nenhum cargo executivo

Minutos depois de aterrar no Aeroporto Internacional de Maputo, no início da manhã de hoje (09 de Janeiro), o político moçambicano Venâncio Mondlane, afirmou estar aberto ao diálogo, mas não almeja nenhum cargo executivo. “Não fiz esta luta para ser chefe, nem para ter benefícios financeiros ou materiais”, disse Mondlane, reiterando que nunca fará parte de um executivo que sai de resultados manipulados.

Segundo Mondlane, a única função que está disponível a assumir é a de defender e lutar pelo povo, pela verdade e pela justiça.

Com uma bíblia na mão, Mondlane foi recebido por uma moldura humana (seus apoiantes), num ambiente muito difícil devido a ação policial, que com alegação de manter a ordem, disparou balas de borracha a mistura com balas verdadeiras e gás lacrimogéneo.

Mondlane chegou a Maputo sob fortes medidas de segurança na zona do aeroporto, depois de dois meses e meio a liderar a contestação aos resultados das eleições gerais a partir do exterior. “Se me quiserem assassinar, assassinem. Se quiserem prender-me, prendam. Sei que na minha queda a fúria popular que se vai verificar em Moçambique não tem comparação na história de África e de Moçambique”, disse.

O Ministério Público abriu processos contra o candidato presidencial, enquanto autor moral de manifestações que terão causado quase 300 mortos, mais de 500 pessoas baleadas e várias infraestruturas públicas e privadas destruídas desde 21 de outubro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.

Carinhosamente tratado pelos seus apoiantes por VM7, Mondlane apresentou quatro objectivos que norteiam o seu regresso ao país. “Regressei para quebrar a narrativa segundo a qual o diálogo convocado pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, com os quatro candidatos à Presidência da República não teve sucesso porque eu não me fiz presente”.

Disse que o segundo objectivo do seu regresso ao país visa impedir que a polícia continue a matar os seus apoiantes. “O regime optou por uma estratégia de genocídio, por isso vim monitorar a situação, para visitar as valas comuns e para gritar a favor dos moçambicanos”.

O terceiro objectivo, segundo a sua explicação é de provar perante a justiça quais são os verdadeiros culpados dos crimes que foram acontecendo desde o início das manifestações até hoje. “Há uma série de responsabilidades criminais contra mim, por isso, estou aqui para mostrar a minha prontidão e submeter-me a justiça”.

Por último, Mondlane disse que voltou para confortar as famílias que perderam os seus familiares durante as manifestações. “Eu quero estar nos bons e nos maus momentos como um sujeito histórico ativo e disponível, para apresentar as minhas ideias e debater a agenda de desenvolvimento”.

Disse que independentemente de todos os riscos associados a esta situação, quer fazer a luta dentro do país até as últimas consequências”.

Venâncio Mondlane fez saber ainda que o seu regresso não resulta de nenhum acordo político, mas é uma decisão unilateral. “O que faz história são os valores que o individuo defende e o sacrifício que se submete a passar a favor dos outros. Por isso, não vim atrás de cargos, nem de regalias”.

Em 23 de dezembro, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar.

O Conselho Constitucional (CC) fixou 15 de janeiro para a tomada de posse do novo Presidente, que sucede a Filipe Nyusi.