O ANTIGO presidente da Agência do Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), Professor Armindo Ngunga, afirmou esta sexta-feira, em Maputo, que o conflito armado que assola a província de Cabo Delgado desde 2017, é muito complexo do que se imagina e exige o uso de uma tecnologia avançada.
Exonerado recentemente das suas funções, Ngunga falava como painelista na conferência internacional sobre a Reintegração “Pós-Conflito” em Moçambique: lições, desafios e o caminho a seguir.
O professor catedrático em linguística, apresentou o tema sobre o modelo de gestão de deslocados vítimas de extremismo violento em Cabo Delgado e defendeu que o governo tem de ser o principal protagonista da gestão de deslocados, o que passa por garantir que a condição de “deslocado” dure não mais de 1 ano através de infraestruturação dos assentamentos humanos e melhoria da habitação.
Apontou ainda a provisão de serviços básicos; criação de oportunidades económicas; realização de psicoterapia social colectiva: debates, desporto e trabalho produtivo.
Em apoio às comunidades deslocadas, Ngunga disse que a Agência criou novos espaços para acolher este grupo de homens, mulheres, idosos e crianças que os chamou de aldeias, pois, entende que aldeia dá maior abertura e liberdade e dá a possibilidade de as pessoas poderem reiniciar suas vidas.
“Esse apoio foi muito crucial, sobretudo para as famílias que recebiam muitas pessoas refugiadas de outros pontos”, disse, salientando que a abertura de novas aldeias foi um grande alívio para essas famílias e, acima de tudo porque foi uma solução definitiva e real.
Ngunga defendeu que o governo está a fazer a sua parte, pois, entende que não se pode esperar que os conflitos acabem para resolver a crise humanitária naquele ponto do país, reconhecendo que o terrorismo é algo difícil de gerir, porque não é uma guerra convencional que termina com a assinatura de um acordo.
No caso de Cabo Delgado, os terroristas não têm rosto em termos de sua liderança. Não se sabe quem está por detrás deles e nem com quem pode-se negociar. Alguns ataques são reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
São os distritos afectados pelo terrorismo, Ancuabe, Chiure, Macomia, Mecufi, Meluco, Metuge, Mocimba da Praia, Montepuez, Mueda, Muidumbe, Nangade, Palma e Quissanga. Em Nampula afecta o distrito de Eráti e Memba e Mecula no Niassa.
O conflito que iniciou em 2017, já fez mais de um milhão de deslocados, de acordo com as Nações Unidas, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Só a onda de violência ocorrida em Junho de 2022, causou pelo menos 53 mortes nos distritos de Ancuabe, Chiure, Mecufi, Meluco, Metuge e Nampula. Mais de 60.000 pessoas, incluindo aproximadamente 33.000 crianças, fugiram das suas residências, de acordo com a organização de caridade, Save the Children.
O Governo criou a Agência de Desenvolvimento Integral do Norte com o objectivo de reduzir as assimetrias regionais através da promoção do desenvolvimento das províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula.
O encontro foi organizado pelo Instituto para Democracia Multipartidária (IMD), em parceria com o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos (MJCR) e o Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (MASC).