Um dos líderes africanos que permaneceram mais tempo no poder, José Eduardo dos Santos, presidente de Angola entre 1979 e 2017, regressou esta terça-feira ao país após mais de dois anos de exílio voluntário em Barcelona, em Espanha.
De acordo com a imprensa angolana, o ex-líder angolano chegou por volta das 11h locais ao Aeroporto Internacional Quatro de Fevereiro, na capital Luanda, e foi recebido por algumas das personalidades que ocuparam cargos políticos durante o seu mandato.
Hoje com 79 anos, Eduardo dos Santos governou Angola com punho de ferro durante quase quatro décadas, até que o atual presidente, João Lourenço, o sucedeu após vencer eleições pelo mesmo partido do antecessor, o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), em 2017.
Eduardo dos Santos também liderou o MPLA até 2018, quando Lourenço foi escolhido para ocupar o posto durante o 6º Congresso Extraordinário do partido.
No seu último discurso naquele Congresso, o ex-presidente garantiu que deixava o cargo com a “cabeça erguida”, embora tenha admitido ter cometido erros ao longo dos anos em que esteve no poder.
O evento marcou o fim do chamado “Eduardismo”, uma designação atribuída ao sistema de gestão de Eduardo dos Santos, cujas principais características eram a corrupção e o nepotismo, com o país a mergulhar fundo, por exemplo, em mortalidade infantil, liberdade de imprensa e acesso à água potável.
Ao contrário do ex-presidente, que nunca foi processado por corrupção, a sua filha Isabel dos Santos, que já não vive no país, está a ser investigada por vários crimes desse tipo, como apropriação indevida de verbas públicas.
Isabel dos Santos esteve no centro do “Luanda Leaks”, uma investigação jornalística com cerca de 700 mil documentos que expôs uma rede de mais de 400 empresas fachada -algumas em paraísos fiscais- e trocas de favores políticos que a levaram a ser a mulher mais rica da África.
Entre as principais revelações da investigação estava a transferência para o exterior de dezenas de milhões de dólares de recursos públicos angolanos que Isabel dos Santos geriu enquanto dirigiu a empresa petrolífera estatal Sonangol de junho de 2016 -por decreto presidencial do pai- até à sua demissão pelo Governo de Lourenço, no final de 2017.
Outro filho do ex-presidente, José Filomeno dos Santos, foi condenado em agosto de 2020 a cinco anos de prisão por fraude cometida quando dirigia o Fundo Soberano angolano, tornando-se o primeiro membro da antiga família presidencial a ser processado como parte de uma campanha anticorrupção promovida por Lourenço.
A luta contra a corrupção é uma das prioridades do Executivo comandado por João Lourenço, que cancelou mais de 20.000 milhões de dólares em contratos irregulares de Isabel dos Santos com o Estado angolano.
O regresso de José Eduardo dos Santos ao país acontece um ano antes das eleições presidenciais previstas para 2022.