O amigo do filho do antigo Presidente da República, Ndambi Guebuza, admitiu hoje em tribunal ter recebido 8,5 milhões de dólares (7,1 milhões de euros) da Privinvest, empresa acusada de pagamento de subornos alimentados pelas dívidas ocultas.
Bruno Langa, o quarto réu em julgamento, depois de Cipriano Mutota, Teófilo Nhangumele e Armando Ndambe Guebuza, optou por negar a maior parte das acusações que pesam sobre si, durante o interrogatório do juiz da causa no processo das dívidas ocultas que está em curso na cadeia de máxima segurança de Maputo, vulgo BO, em tendas montadas para o evento.
Bruno Langa chegou mesmo a negar a sua assinatura que consta dos depoimentos anteriores colhidos em sede do tribunal e na PGR, afirmando que apenas se parecia com a assinatura dele.
Aliás, Bruno Langa nega todas as versões dos depoimentos anteriores colhidos em sede do tribunal e na PGR.
O réu teve uma postura idêntica a do seu amigo Ndambi Guebuza, durante a sua audiência terminada terça-feira, que também negou todas as acusações. Literalmente os dois réus negam a sua participação na elaboração do projecto da protecção da costa moçambicana.
Confrontado com seus depoimentos pelo Ministério Público, Bruno Langa negou ser da sua autoria, as palavras e informações contidas no documentos. “Mesmo a assinatura não é minha, é parecida com a minha”.
Bruno alegou que havia muita confusão nos documentos e que muita informacao contida não constituia a verdade. Segundo o Réu, no dia que foi levado a procuradoria, teria sido ameaçado para falar.
Entretanto, o réu admitiu ter recebido 8,5 milhões de dólares (7,1 milhões de euros) da Privinvest, empresa acusada de pagamento de subornos alimentados pelas dívidas ocultas.
Tal como afirmou o réu Teofilo Nhangumele, Bruno disse que o pagamento é a prova do trabalho que fez para a Privinvest, pois, não se dá dinheiro sem trabalhar.
A resposta do réu irritou o juiz, que de imediato explicou ao arguido que é possível dar dinheiro a quem não trabalhou, quando se trate de “doação” ou “esmola”.
Também foi questionado pela Magistrada do MP, quanto é que receberia do contrato sendo ele consultor e, respondeu que quando assinou o contrato não sabia exactamente quanto é que seria pago pelo trabalho que iria fazer.
Perante esta resposta, o MP questionou ao réu sobre o tipo de consultoria que ele mesmo não sabia quanto valia, e a resposta foi “não tenho preço”.
Bruno Langa, 44 anos, disse ao tribunal que o dinheiro que recebeu era do trabalho de consultoria em hotelaria e imobiliária que prestou à Privinvest, no âmbito de um contrato que diz ter assinado em janeiro de 2012, em Abu Dhabi, sede da Privinvest.
Em Abu Dhabi, o arguido encontrou-se com o negociador da Privinvest, Jean Boustani, acusado pelo Ministério Público moçambicano de ter sido o responsável pelo pagamento dos subornos das dívidas ocultas.
Langa confirmou que o valor foi depositado em 23 de março de 2013, numa conta que abriu com a ajuda da Privinvest, em Abu Dhabi.
Confrontado pelo juiz com o facto de no contrato que assinou com aquela empresa ter sido identificado como mecânico de máquinas a diesel, enquanto afirmou perante o tribunal que prestou consultoria em hotelaria e imobiliária, Bruno Langa responsabilizou a Privinvest por essa situação.Hoje, na confirmação dos dados constantes dos autos, Langa disse em tribunal que é comerciante de vários bens e serviços.
O arguido admitiu ser amigo de Ndambi Guebuza desde os tempos de escola primária, tendo fortalecido a amizade no secundário e em colégios onde estudaram na África do Sul.
Continuaram amigos na juventude, tendo sido parceiros em negócios, que se cimentaram numa empresa de venda de mobiliário de escritório com sede em Maputo.
Questionado sobre uma viagem que ambos fizeram aos estaleiros da Privinvest na Alemanha, Bruno Langa confirmou que se encontrou com Ndambi Guebuza naquele país europeu, em dezembro de 2011, mas negou que a viagem tenha sido “programada” em Maputo.
Na mesma ocasião, disse o arguido, esteve na Alemanha com Teófilo Nhangumele, arguido e peça-chave no caso das dívidas ocultas.
Afirmou também que realizou várias viagens a Abu Dhabi, sede da Privinvest, com Nhangumele e com António do Rosário, diretor da Inteligência Económica do Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE), os serviços secretos moçambicanos, também arguido no processo, onde se encontraram com Ndambi Guebuza, que já lá estava.
O Ministério Público acusa os 19 arguidos das dívidas ocultas de se terem associado em “quadrilha” para delapidarem o Estado moçambicano e deixar o país “numa situação económica difícil”.
A conduta, prosseguiu, prejudicou o Estado moçambicano em 2,7 mil milhões de dólares (2,28 mil milhões de euros) – valor apontado pelo Ministério Público e superior aos 2,2 milhões de dólares até agora conhecidos no caso – angariados junto de bancos internacionais através de garantias prestadas pelo Governo.
Os empréstimos foram secretamente avalizados pelo Governo da Frelimo, liderado pelo presidente da República à época, Armando Guebuza, sem o conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.